Um país com milhares de pequenos ditadores

Filho ditador

Milly Lacombe  – 26/09/2016

Foto: Hitlerzinho. Ele era cheio de convicções. Basta ler: Mein Kampf.

“Sempre sonhei em ver grandes empresários e políticos de renome atrás das grades,

  • mas não deveria haver, para isso,  julgamento com amplo direito à defesa?
  • Não somos inocentes até que se prove o contrário?
  • Para que se tire a liberdade de uma pessoa basta o depoimento acusatório de outros?”

 

Há dois mil anos o dramaturgo romano Terêncio escreveu “Sou homem; nada do que é humano me é alheio”, uma dessas frases que provocam porque carregam forte conteúdo moral sem cair na tentação de ser moralista.

No Brasil de Sergio Moro a frase de Terêncio não faz mais o menor sentido, mas uma outra parece fazer: “Problemas inéditos merecem soluções inéditas”, declaração  tão absurda que poderia ter sido usada pelos idealizadores do nazismo para justificar todo o tipo de barbárie que eles estavam prestes cometer.

Ao dizer que problemas inéditos merecem soluções inéditas, como disse a Corte Especial do Tribunal Regional Federal da 4º Região que recentemente julgou Moro por supostos abusos e ilegalidades cometidos durante a Lava Jato, fica estabelecido

  • primeiro que, sim, Moro está agindo fora da lei;
  • e, depois, que ele, dado o ineditismo do problema, pode agir como bem entender, transformando-se numa versão moderna do todo-poderoso que berra “eu mando prender e mando soltar”.

O que me intriga é o que disse Terêncio:

  • se nada do que é humano pode nos ser alheio,
  • e se estamos aqui há dezenas de milhares de anos,

que tipo de desvio de conduta pode ser inédito?

Se tem, aliás, uma coisa que no Brasil deve ser rotulada como o oposto de inédito ela é a corrupção. E com ela desvios, superfaturamentos, e subfaturamento de estatal e todo o tipo de tunga em relação ao dinheiro público.

O que é exatamente inédito? Que políticos peçam propina a empresários? Que grandes empresas banquem ilegalmente campanhas políticas? Que exista uma putaria sem fim entre o público e o privado?

Há quantos séculos somos orquestrados pela corrupção? Há quantas décadas somos roubados por uma elite, política ou empresarial, que não se acanha em acumular cada vez mais patrimônio e em alargar o espaço privado em detrimento do público?

O que é exatamente inédito que justifique essas tais soluções inéditas, que vão tirando, através de espetáculos transmitidos ao vivo, a liberdade de suspeitos, por mais que detestemos esses suspeitos? É legítimo, ou mesmo moral, que submetamos suspeitos a humilhações públicas?

Sempre sonhei em ver grandes empresários e políticos de renome atrás das grades, mas não deveria haver, para isso, julgamento com amplo direito à defesa? Não somos inocentes até que se prove o contrário? Para que se tire a liberdade de uma pessoa basta o depoimento acusatório de outros?

 Eles afirmam não ter provas, mas têm convicção

O princípio da presunção de inocência nasceu com a Revolução Francesa como resposta a todo tipo de selvageria que era cometida contra suspeitos. Antes disso o que havia era a inquisição, uma época de infinitos abusos humanitários e para a qual hoje olhamos horrorizados.

É essa a hora de testarmos nosso apego aos valores mais básicos de uma democracia. Querer que “soluções inéditas” sejam aplicadas a pessoas que nos são desprezíveis não é conceito democrático; Stalin seria capaz de concordar com coisa parecida.

Não há problemas inéditos no Brasil, mas, ainda que houvesse, eles não justificariam soluções inéditas porque conceder superpoderes a homens e mulheres é o que pode nos conduzir às trevas, e aqueles que lá estiveram garantem que nós não quereríamos voltar.

Ser possuído por valores democráticos é exigir que até nossos inimigos sejam julgados, e tratados, com base na lei e nos ritos. Aplaudir abusos e ilegalidades porque eles são cometidos contra inimigos é coisa de ditador.

Infelizmente o que estamos vendo, aterrorizados, é que o Brasil está cheio deles.

 

Milly 1X1

Milly Lacombe

Fonte: https://blogdamilly.com/2016/09/26/um-pais-com-milhares-de-pequenos-ditadores/

 

 

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Uma resposta

  1. Novamente esta Associação publica artigo de cunho inútil, que traz uma interpretação equivocada dos anos do nazismo com a realidade atual. Um artigo desta laia é poluição verbal e mental.

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