DOM ANGÉLICO SÂNDALO BERNADINO – Deus é amor = testemunho pessoal e homenagem ao dom Angélico Sandalo Bernardino, escrita pelo Prof. Dr. Fernando Altemeyer Junior, PUC-SP. 15 de abril de 2025.

Angélico fez sua páscoa hoje no coração da Semana Santa, aos 92,23 anos. Nosso querido dom tinha como mote episcopal a frase: Deus é amor. Dom Angélico Sândalo Bernardino completara 92 anos em 19 de janeiro. Nascera em Saltinho de Piracicaba, em 1933, em um lar de muito amor, gerado por Duilio e Catarina. Conversar com dom Angélico me transportava aos tempos de Santo Agostinho, e me via ouvindo o teólogo da graça em suas Confissões, livro X, 6: “Mas, que amo eu quando te amo? Não uma beleza corporal ou uma graça transitória, nem o esplendor da luz, tão cara a meus olhos, nem as doces melodias de variadas cantilenas, nem o suave odor das flores, dos unguentos, dos aromas, nem o maná ou o mel, nem os membros tão suscetíveis às carícias carnais. Nada disso eu amo, quando amo o meu Deus. E contudo, amo a luz, a voz, o perfume, o alimento e o abraço, quando amo o meu Deus: a luz, a voz, o odor, o alimento, o abraço do homem interior que habita em mim, onde para a minha alma brilha uma luz que nenhum espaço contém, onde ressoa uma voz que o tempo não destrói, de onde exala um perfume que o vento não dissipa, onde se saboreia uma comida que o apetite não diminui, onde se estabelece um contato que a sociedade não desfaz. Eis o que amo quando amo o meu Deus.” Cinco lições angelicais: Primeira: Dom Angélico sempre falava com audácia carregada de amor. O amor que recebeu dos pais e das irmãs. Conhecia o amor pessoalmente. E amava e era amado. Amamos Angélico por nos ensinar a falar de pais e mães, de família, de irmãos e sobretudo de Jesus, o Nazareno. Sempre soube que além do nome angelical tinha um sobrenome de perfume: Sândalo. Ah! Vale lembrar que morou depois de aposentado no Jardim Primavera! São muitos sinais de Deus em sua vida. Segunda: dom Bernardino amou as lutas e os compromissos do povo e da Igreja Povo de Deus no caminho ao lado dos empobrecidos. Sempre havia um abraço forte, um beijo no rosto ou na testa dos anciãos e jovens e até um carinho personalisado para as pessoas mais simples e os/as trabalhadores/as. Terceira: Aprendemos dele a colocar no centro das missas e das pastorais os últimos da cidade e da sociedade. Ninguém se sentia excluído, pois na missa e as orações de Angélico, como um outro Cristo, sempre cabiam todos e todas. Esse amor sem fronteiras nem paredes. Amor sinodal. Amor radical. Amor rizomático. Amor que construiu pontes e não se fixava insensível diante das normas e leis (mesmo aquelas dos funcionários religiosos de tantas cúrias e burocracias) que sufocavam e enrijeciam os corações. Angélico era homem livre, diante de uma criança e diante do papa de Roma. Amor em gestos e palavras com coragem, sem perder a ternura jamais. Fora do amor, ele nos dizia que não há salvação. Amamos a esperança rebelde e teimosa. Dom Angélico sempre traz marcado a fogo a memória de profetas como dom Paulo Arns, dom Luciano Mendes, dom Helder, Frei Gorgulho, padre Toninho orionita, Santo Dias da Silva, Madre Cristina do SEDES SAPIENTIAE, Alexandre Vannuchi Leme, Madre Maurina, Manoel Fiel Filho, padre Ticão, Carlos Strabelli e tantas gentes que marcaram a sua vida já em Ribeirão Preto, depois em São Miguel Paulista, na amada Brasilândia (que ele as vezes chama de Brasalândia – o fogo de Deus), e de forma esponsal na sua Blumenau, que ele chamava sempre de sua Bela e Santa Catarina. Dom Angélico pouco falava de si. Teria feito terapia para evitar o narcisismo clerical ou era dom pessoal? Seria uma reza forte mergulhando em seu interior para saber-se conhecedor de suas belezuras bem como de seus pecados e fragilidades? Creio que sempre buscou Deus nas estradas e meandros da vida, sem imposição ou arrogancia. Ao buscar Deus, Angélico não se perdia. Deus se deixa encontrar e lhe confidenciava segredos de amor. Ao falar de companheiras/os de viagem, fez a travessia nas águas do mar da vida conduzido pelo Espírito do Ressuscitado. Com ele cantei a melodia do Roberto Carlos, emocionado: Meu querido, meu velho, meu amigo! E chorei quando padre Pedro Ricardo gravou um salmo que ele declamava como poeta vigoroso. E quem não ficava pasmo ao ouvir as bem aventuranças de Mateus? Quarta: Amamos ver em Angélico seu modo despojado de ser bispo. Papa Francisco tem um jeito de Angélico ou seria Angélico que tinha jeito de Francisco? Nenhuma atenção às pompas e títulos. Havia sempre o cuidado reverente e a emoção profunda na celebração da Eucaristia, mas sem brilhos nem lantejoulas e, sobretudo sem clericalismo narcisista de tantos clérigos emplumados. Seu cajado foi sempre o braço amigo de um padre que veio de Ribeirão Preto para cuidar das ovelhas perdidas e não permitir a sanha voraz dos lobos, do capital e dos opressores. Sua mitra foi sempre o carinho e o afago de algum operário ou mesmo trabalhadora. Seu anel foi sempre a aliança com os pobres. Dom Angélico foi ordenado bispo para viver “anzolado” com os pequeninos. A singeleza de sua presença deixava o Cristo resplandecer. Sem magia nem feitiçaria. Só a pura graça divina agindo na comunidade. Gratuitamente. Angélico sempre se entusiasmava quando falava do seu amor por Jesus. Amor apaixonado. Todo de Deus. Tocava nossos corações e mentes com a sua palavra jornalística bem burilada e direta. Não havia firulas nem meias-palavras. Não havia diversionismo nem cumplicidade com os ricos e opressores. Dom Angélico sempre foi direto ao ponto: proclamar o Evangelho a tempo e contratempo. Basta dizer que o padre Júlio Renato Lancellotti o tem como um pai espiritual, assim como dezenas de padres e leigos e religiosas pelo Brasil todinho. Angélico falava de Deus falando de corpos, de desejos, de pães, de trabalho, de caminhadas, de projetos sociais e das utopias humano-divinas. O Cristo de Angélico foi sempre o Jesus Ressuscitado que caminhava animando-nos, encorajando-nos, alegrando-nos, desejando
MUNDO – Entenda a ofensiva de Trump contra universidades de ponta

Governo de Donald Trump usa bloqueio de verbas como ferramenta para pressionar instituições acadêmicas a se alinharem a suas visões políticas e ideológicas. Entre os alvos, estão Harvard, Princeton e Columbia. Desde que voltou à Casa Branca, Donald Trump tem colocado em risco a pesquisa universitária nos Estados Unidos por meio do bloqueio de financiamentos e de interferência na gestão de algumas das mais importantes instituições acadêmicas do mundo. Com um Congresso submisso, controlado pelo Partido Republicano, e uma Suprema Corte dominada por conservadores, o presidente americano não tem tido dificuldade em cumprir sua promessa de campanha de recuperar as instituições educacionais americanas do que ele chama de “esquerda radical”. O governo Trump tem determinado nas últimas semanas a suspensão de centenas de milhares de dólares em financiamentos de diversas instituições de ensino superior, incluindo Harvard, Columbia, Princeton, Johns Hopkins e Universidade da Pensilvânia, e ameaçou ir além caso essas instituições insistam numa suposta “postura antissemita”. Na visão da atual administração, isso inclui ações que questionem o governo de Israel, como acolher manifestações estudantis contra a guerra em Gaza. O governo Trump mandou investigar cerca de 100 instituições de ensino superior por discriminação e antissemitismo. Algumas delas conseguiram recorrer na Justiça contra sanções mas, de forma geral, elas estão se curvando às pressões, já que não podem prescindir dos recursos federais. Segundo levantamento da agência de notícias Associated Press, essas universidades, juntas, receberam 33 bilhões de dólares (R$ 188,4 bilhões) entre 2022 e 2023, o que representa, em média, 13% de seus orçamentos. Recusa de Harvard A Universidade de Harvard foi a primeira a se recusar a cumprir as exigências da Casa Branca, como acabar com programas de inclusão e diversidade que, segundo o governo Trump, “alimentam o assédio antissemita”. Nesta segunda-feira (14/04), o Departamento de Educação anunciou, por isso, o congelamento de 2,3 bilhões de dólares em subsídios e contratos para a instituição. Em uma carta enviada a Harvard, o governo americano havia exigido reformas amplas na administração da universidade, a adoção de políticas de admissão e contratação “baseadas em mérito”, além da realização de uma auditoria com estudantes, professores e dirigentes. O presidente de Harvard, Alan Garber, acusou as exigências de Washington de violar os direitos garantidos pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA – que garante as liberdades fundamentais, em particular a liberdade de expressão. “Nenhum governo – independentemente do partido que estiver no poder – deve ditar o que universidades privadas podem ensinar, quem podem admitir ou contratar, e quais áreas de estudo e pesquisa podem seguir”, escreveu Garber em uma carta. Considerada a universidade com mais recursos do mundo, Harvard é acusada pela força-tarefa federal contra antissemitismo de não proteger seus estudantes judeus e de promover “ideologias divisórias através da livre pesquisa”. Por conta disso, o órgão havia ameaçado cortar 9 bilhões de dólares (R$ 51,4 bilhões) da Harvard em contratos e subsídios federais. Fonte: Site DW Matéria Completa: Acesse Aqui
SOCIEDADE – Dowbor: Pra nos tirar da solidão

As crianças perderam as ruas e foram aprisionadas em telas. O trabalho tornou-se obrigação sem sentido. O laço entre as gerações se perdeu no apartamento exíguo. Mas busca-se, em todo o mundo, caminhos de reconexão. São flores no asfalto? Trabalhei anos em países africanos com ambiente social rico: bairros com crianças, avós, tios e tias, muito barulho e correria, zero privacidade, mas também muitas risadas. Era vida pulsando. E as ruas eram um lugar para socializar. Na minha infância em São Paulo, lembro que minha mãe ficava rouca de tanto gritar para nos chamar do meio da rua na hora do almoço. O mundo nos permitia explorar, e aprender a identificar o que valia a pena correr atrás — e do quê era melhor fugir. Jonathan Haidt menciona, em The Anxious Generation: How the Great Rewiring of Childhood Is Causing an Epidemic of Mental Illness2, a fragilidade social de crianças superprotegidas, refugiando-se em seus smartphones, com pouca experiência de liberdade para explorar o mundo ou de interação social espontânea. Mas isso não é um problema apenas para as crianças. A vida social foi empobrecida — e profundamente transformada — para todos. Nos estádios de futebol, vemos milhares de pessoas gritando e cantando, empurrando-se numa explosão de convivência, a felicidade de xingar a mãe do juiz. Na TV, onde as crianças assistem ao jogo e ouvem, ao fundo, a torcida cantando refrões agressivos ou obscenos, o comentarista os “traduz”, para preservar as inocências. Bem,a explosão no estádio é libertadora, mas dura só algumas horas a cada semana. Quando criança, eu não assistia a jogos – nós os jogávamos. E xingávamos de forma saudável. Será só nostalgia do passado? Há, de fato, uma perda de convívio, e a convivência virtual não é a mesma coisa. Uma grande transformação está na estrutura familiar. Ela varia conforme o país ou a comunidade, mas, no geral, esse pilar da organização social mudou. Tomo o exemplo norte-americano, expresso na figura abaixo: entre 1960 e 2023, o que antes era o paradigma do American way of life — um casal com filhos (se possível, com TV, carro, quintal e churrasqueira) — passou de 44,2% dos lares para apenas 17,9%. Os políticos ainda insistem em tratar a família como “alicerce sagrado da sociedade”, e os pastores fazem o mesmo, mas seria bom eles olharem os dados com mais atenção. Na realidade, as pessoas que vivem sozinhas, que representavam 13,1% dos lares em 1960, agora somam 29%. É uma fratura profunda na estrutura social. Se adicionarmos casais sem filhos, chegamos a 58,4% dos lares estadunidenses compostos por adultos casados ou solteiros sem crianças, como destacado no gráfico. Há ainda parceiros não casados e pais/mães solo. O ponto crucial não é apenas a perda das ruas como espaço de convivência, a obsessão com smartphones, mas também o isolamento do lar. Fonte: Site OUTRAS PALAVRAS Matéria Completa: Acesse Aqui