ARTIGO – DESACELERAR PARA VIVER MELHOR
Com o tempo, fui entendendo que a pressa nem sempre me leva mais longe. Comecei a ser mais gentil com meus passos, permitindo-me sentir cada momento sem a ansiedade de um destino final. Porque, no fim das contas, não há um lugar específico onde preciso chegar. O verdadeiro caminho sou eu mesma. Aprendi a aproveitar cada respiração, cada amanhecer, cada conversa sincera. Percebi que a pressa rouba a beleza do presente, enquanto a calma me ensina a apreciar a jornada. E que jornada linda tem sido! Então, hoje, te convido a desacelerar. A sentir o vento no rosto, a saborear cada instante e a entender que a vida não é uma corrida, mas sim um caminho a ser trilhado com leveza. Porque você não é apenas o viajante, você é a própria viagem. Colunista Colaborador – Álvaro Silva
ARTIGO – CARTA AOS BISPOS CATÓLICOS DO BRASIL
Eminências: O catolicismo era, no Brasil, a confissão religiosa majoritária na década de 1950, abraçada por 93,5% da população. (IBGE). No censo de 2010, declararam-se católicos 64,6% da população. Os evangélicos, 30%. Em 2030, segundo prognósticos, os católicos serão de 35 a 40% da população e os evangélicos, de 38 a 40%. Enquanto os católicos declinam 1 ponto percentual ao ano, os evangélicos crescem na mesma proporção. Por que o catolicismo retrocede? São várias as razões. A hierarquia católica cometeu dois pecados capitais nos últimos 60 anos: fragilizou o apoio às Comunidades Eclesiais de Base – o movimento eclesial mais expressivo da história da Igreja no Brasil e de maior capilaridade nacional. Mas o primeiro pecado foi, após o golpe militar de 1964, levar a Ação Católica à agonia e morte. Onde se encontra, hoje, o laicato participativo, crítico, apostolicamente ativo entre operários, universitários e intelectuais? Aliás, nossas universidades católicas evangelizam? Em muitas delas se formaram notórios políticos corruptos e legitimadores da opressão social. De fato, o clero sempre temeu o protagonismo dos leigos. Devem ser apenas cordeiros cuja lã serve para ser tosquiada pelos pastores, como declarou o papa Inocêncio III. Por que, em nossas missas dominicais em paróquias de classe média, os patrões comparecem, mas seus empregados (cozinheiras, faxineiras, porteiros de prédios etc.) vão para a Igreja evangélica? Diz-se que a Igreja Católica fez opção pelos pobres, e os pobres, pelas Igrejas evangélicas… Aponto algumas causas da redução de nossa grei. Uma delas, com frequência denunciada pelo papa Francisco, é o clericalismo. Vide uma missa dominical. Tudo centrado na figura do sacerdote. Quando muito, um leigo ou leiga lê um dos textos litúrgicos. Os fiéis ignoram uns aos outros. No “abraço da paz” saúdam os vizinhos de banco sem sequer perguntar pelos nomes deles. Na hora da homilia, por vezes suportam a pregação aborrecida de um celebrante que nunca fez curso de oratória, não tem conteúdo (não lê e teve formação medíocre em filosofia e teologia), adota um discurso moralista. Procura se salvar com evocações emotivas porque não sabe como abastecer “as razões de nossa esperança”. Sei que a maioria dos senhores jamais participou de um culto evangélico. Nosso ecumenismo não ultrapassa os limites de algumas Igrejas protestantes históricas. O que é uma lástima. Os seminaristas não são incentivados a abraçar o diálogo interreligioso e, em geral, têm visão preconceituosa das outras confissões religiosas. O que sabem de nossas religiões indígenas? Alguma vez foram a um terreiro de candomblé ou umbanda? Ou a um centro espírita? A maioria ignora as matrizes da religiosidade brasileira. Se os senhores bispos fossem a um culto evangélico veriam os motivos do crescimento exponencial desse segmento cristão. Há cultos que duram duas ou três horas sem aborrecer os fiéis, ao contrário de muitas de nossas missas. Sabem por quê? Porque os fiéis têm participação ativa. Dão testemunhos de vida, vídeos atrativos são exibidos, os músicos e cantores aprimoram seus talentos, há escolas bíblicas. Os fiéis se conhecem pelo nome, o aniversário de cada um é comemorado em comunidade, há forte corrente de entreajuda (um dentista ou médico atende irmãos e irmãs). Ali as pessoas não são anônimas; ganham autoestima. Um cuida de arrumar emprego para o outro. Há entre eles forte vínculo afetivo. E a pauta de costumes leva-os a conhecer a prosperidade, pois abandonam os vícios e, assim, aumentam a poupança familiar. Não me sinto afinado com a teologia da maioria das Igrejas evangélicas, porque enfatizam mais o Antigo que o Novo Testamento; o diabo mais que Deus; o Deus da punição mais que o Deus do amor; o pecado mais que a graça. E muitas Igrejas estão politicamente alinhadas ao conservadorismo, à naturalização da desigualdade social, à exaltação das riquezas. Incutem nos fiéis a “servidão voluntária”. Fazem uma leitura equivocada da Bíblia ao retirar o texto do contexto, como também acontece entre nós, católicos. Porém, conseguem criar forte senso de pertença e comunidade, imprimindo sentido à vida de todos. Não escrevo aos senhores para suscitar espírito de competição entre Igrejas. Temos muito a aprender com nossos irmãos evangélicos. Escrevo porque me inquieta o retrocesso da Igreja Católica, a perda do profetismo de nossos pastores, o esvaziamento de nossas paróquias, essa nova geração de seminaristas e padres apegada à batina, aos símbolos religiosos, às imagens sacras. Sacerdotes próximos às classes média e rica, e distante dos excluídos e vulneráveis, apegados ao conforto e à acumulação de bens. Escrevo porque sinto que Francisco, como João Batista, é um papa que clama no deserto… Será que dentro da Igreja Católica ainda há salvação para o Evangelho de Jesus? Deus nos encoraje e ilumine! Frei Betto é escritor, autor de “Jesus rebelde” (Vozes), entre outros livros. Livraria virtual: freibetto.org Assine e receba todos os artigos do autor: mhgpal@gmail.com
ARTIGO – ESSE TAL PECADO
Essa história do pecado é complicada. Ficamos pensando no momento em que começa o pecado. A Bíblia pretende explicar os fatos que aconteciam 600 anos depois, olhando para o início. Tem certa lógica pois a história é a mesma. A ideia que o criado era bom, mostra uma inocência original. Também o quadro comparativo do gênesis entre um mundo em harmonia e outro em desarmonia indica que algo aconteceu nesta mudança. Na classificação do pecado em ser um ato livre e consciente indica uma certa responsabilidade pela ação. A pessoa ter liberdade, consciência e absoluta certeza é meio complicado. Muitos fatores acompanham as ações. Na dúvida não há culpa. Se a liberdade se manifesta a partir do consciente, o pecado ficaria por aqui e não na catequese sobre o mesmo. Ou seja, se a consciência e a liberdade são construídas pelo sujeito, ele é senhor de seu destino. O certo é que existem ações corretas e incorretas. Qual seria o limite entre elas? E como julgá-las? Quando entra Jesus Cristo a conversa é outra. Fundamentalmente ele foi enviado pelo Pai ao mundo para libertar a humanidade do pecado. Da libertação de um povo (Ouviu o clamor), morre por todos. Qual pecado? Se pensarmos que Jesus Cristo com o Pai e o Espírito Santo formam um círculo amoroso divino desde toda eternidade e que a criação do mundo e do ser humano foi uma oferta graciosa desse amor. Deus é amor e quem permanece no amor permanece nele. Deus está onde estiver o amor. Pecado, será então, sair deste círculo, ou seja, não amar. Ama e faze o que quiseres (Santo Agostinho). Pela encarnação Jesus Cristo entra no círculo humano, pela ressurreição eleva o círculo humano ao divino. O sacrifício da cruz de Jesus Cristo, foi recriar a possibilidade de reintegração humana no círculo amoroso divino. Aqui também, o gesto de Jesus Cristo, foi uma oferta livre. Uma recriação. Ele reintegrou o círculo amoroso humano. A dificuldade é o seguimento, a adesão a esta proposta. Deve ser também gratuita e livre. Ele espera o momento oportuno. Ele não tem pressa, nós sim, devemos ter pressa. A figueira dá duas safras por ano. Há três anos (seis safras) não dava nada e acrescentou mais um ano (duas safras). Haja paciência! E como a reintegração envolve o sangue da nova e eterna aliança, para o seguidor a marca da cruz e o sangue entram na história. Fortaleza, 28.03.2025. Ozanir Martins Silva