MUNDO – Palestinos, judeus, armênios e mais: a limpeza étnica que mancha a história do mundo

O plano de reassentar moradores de Gaza lembra a perseguição que muitas minorias sofreram no passado. Desde os tempos antigos até hoje, em muitos conflitos foram feitas tentativas de exterminar um povo inteiro. A reportagem é de Enrico Franceschini, publicada por Repubblica, 06-02-2025. “Evitem qualquer forma de limpeza étnica em Gaza”: ontem, o secretário-geral da ONU, António Guterres, respondeu desta forma à proposta de Donald Trump de transferir os dois milhões de palestinos da Faixa para vários países árabes e transformá-la num balneário “internacional”. Enquanto isso, a porta-voz da Casa Branca voltou atrás parcialmente nas palavras do presidente, afirmando que Trump não se comprometeu a enviar tropas americanas a Gaza para “tomar posse dela”, como havia dito na entrevista coletiva conjunta com o primeiro-ministro israelense Netanyahu, e que a transferência de palestinos seria apenas uma medida temporária. Mas enquanto o mundo árabe e a Europa discordam de um projeto que violaria as normas internacionais, nos Estados Unidos não faltam aqueles que o consideram um estímulo à paz, à prosperidade e aos negócios, desenvolvendo a construção e o turismo em “40 quilômetros de litoral”. Washington nega que isto tenha sido uma “limpeza étnica”. Aqui está um histórico deste termo e os casos aos quais ele foi aplicado no passado. O que é limpeza étnica? Limpeza étnica refere-se a uma variedade de ações que visam remover à força de um território a população de uma minoria étnica ou religiosa, mesmo recorrendo à violência, a fim de preservar a identidade e a homogeneidade de um grupo étnico predominante. Pode ocorrer por meio de deportação em massa ou métodos indiretos que visam forçar a minoria a migrar e impedir seu retorno, como assassinato, estupro e destruição de propriedade . O termo entrou em uso comum com os conflitos entre albaneses e sérvios em Kosovo a partir da década de 1980 e com as guerras na antiga Iugoslávia na década de 1990, mas o fenômeno tem precedentes muito antigos. Foi definido como um crime contra a humanidade pelo Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia e pelo Tribunal Penal Internacional em Haia. Nos tempos antigos Entre os primeiros exemplos de limpeza étnica, os historiadores consideram a expulsão de dezenas de milhares de judeus do Reino de Israel pelo Império Babilônico em 597 a.C., o massacre de romanos que viviam na Anatólia cometido pelo rei Mitrídates VI em 88 a.C., e as guerras romanas contra os judeus entre 115 e 136 d.C., nas quais centenas de aldeias foram arrasadas e centenas de milhares de pessoas mortas ou expulsas. Da Idade Média à Idade Moderna Casos mais recentes incluem a expulsão e o extermínio de armênios e gregos da Anatólia durante as invasões turcas entre 1071 e 1453 d.C.; a expulsão de judeus de vários países europeus, incluindo Espanha, França e alguns estados alemães entre os séculos XIII e XVI, com a medida alternativa, em Espanha, de conversão compulsória ao catolicismo; o deslocamento forçado de nativos americanos de 1492 até a segunda metade do século XIX por colonos britânicos, espanhóis e finalmente americanos, que segundo muitos historiadores assumiu as características de genocídio; o confisco de terras e a expulsão dos irlandeses na atual Irlanda do Norte por tropas e colonos ingleses entre 1566 e 1652; o extermínio em massa das populações mongóis na região de Dzungar por ordem da dinastia chinesa Qing entre 1755 e 1757; o extermínio e deslocamento de aborígenes na Austrália por colonos brancos de 1788 até o início do século XX. Fonte: Site Instituto Humanitas Unisinos Matéria Completa: Acesse Aqui
ARTIGO – CAMINHANDO COM DOM HELDER CAMARA EM FORTALEZA
Com Dom Aloísio Lorscheider em Fortaleza Helder Pessoa Camara nasceu em Fortaleza no domingo, 07 de fevereiro de 1907, isto é, há 118 anos. É o 11.º filho de Adelaide Rodrigues Pessoa e João Eduardo Torres Camara Filho. Helder foi batizado em 31 de março do mesmo ano na capela da Santa Casa de Fortaleza por Monsenhor José Leorne Menescal. Estudou no “Seminário Episcopal do Ceará”, conhecido como “Seminário da Prainha”, entre os anos de 1923 e 1931. Foi ordenado padre em 15 de agosto de 1931, na Catedral de Fortaleza pela imposição das mãos de Dom Manoel da Silva Gomes. Trabalhou na Diocese de Fortaleza durante cinco anos, entre 1931 e 1936: – Organização da JOC (Juventude Operária Católica) – Liga dos Professores Católicos – Professor de Religião no Liceu do Ceará – Coordenador da “Instrução Pública” (atual SEDUC) – Fundador do movimento “Legião Cearense de Trabalho” e da sindicalização “Operária Católica Feminina” reunindo lavadeiras, engomadeiras, domésticas, cozinheiras, amas e copeiras. – Membro da LEC (Liga Eleitoral Católica) – Participação na “Ação Integralista Brasileira”, sobre a qual escreveu nas suas ‘Declarações Testamentárias’, em 24 de março de 1943: “Cometi, que eu saiba, três pecados contra o espírito sacerdotal. O primeiro é que me fiz político”. – Assistente Eclesiástico da “União dos Moços Católicos”. Foi transferido para a Arquidiocese do Rio de Janeiro em 1936, onde foi sagrado bispo em 1952. Realizou obras importantes de assistência aos pobres, organizou a CNBB e foi co-fundador do CELAM (Conselho Episcopal Latino Americano). Foi transferido para a Arquidiocese de Olinda e Recife em 1964. A partir de antão tornou-se a voz dos pobres, clamando por paz e justiça pelo mundo afora. Nos anos de 1970, 1971, 1972 e 1973, foi candidato ao Prêmio Nobel da Paz, que lhe foi negado por influência e insistência da Ditadura Militar no Brasil. Dom Helder foi chamado pelo Pai da Criação, como gostava de chamá-Lo, em 27 de agosto de 1999, no Recife. O processo de beatificação e Canonização de Dom Helder foi aberto em 03 de maio de 2025. Dom Helder foi um homem de relevância mundial, mesmo tendo uma atuação mais duradoura e expressiva no Rio de Janeiro e no Recife. Diante desta constatação e após ter percorrido os passos e o legado de padre Helder em Fortaleza, podemos questionar porque este filho ilustre desta cidade, de reconhecimento mundial, em processo de beatificação e canonização, recebe tão pouco atenção pela Arquidiocese de Fortaleza e também pelos demais poderes e entidades públicas cearenses? Fortaleza, 7 de fevereiro de 2025, Geraldo Frencken – Membro do “Grupo Dom Helder”
SOCIEDADE – “A inteligência artificial está nos levando a uma nova fase do conhecimento”. Entrevista com Paolo Benanti

A entrevista é de Ignacio Santa Maria, publicada por Ethic, 06-02-2025. A tradução é do Cepat. Ele frequenta as universidades, fóruns de debate e estúdios de televisão ao redor do mundo com o seu hábito de frade franciscano e uma mochila nas costas. Paolo Benanti (Roma, 1973) é um dos especialistas em inteligência artificial mais requisitados do mundo. Assessor da ONU, do Papa Francisco e do Governo italiano, acaba de publicar na Espanha o livro A era digital, no qual aborda os grandes desafios antropológicos, éticos e sociais que os últimos avanços tecnológicos estão levantando. A entrevista é de Ignacio Santa Maria, publicada por Ethic, 06-02-2025. A tradução é do Cepat. Eis a entrevista. Em ‘A era digital, você diz que a quarta revolução em que estamos imersos não é apenas tecnológica. Quais são suas outras implicações? Representa uma transformação radical da nossa compreensão da realidade e de nós mesmos. Hoje, graças à tecnologia, podemos remapear a realidade segundo outros paradigmas. É a mesma coisa que aconteceu séculos atrás com a invenção da lente convexa, que deu origem a dois instrumentos: o telescópio, que nos permitiu estudar o infinitamente grande, e o microscópio, que nos abriu caminho para estudar o infinitamente pequeno. Esses dois instrumentos transformaram nossa compreensão da realidade porque percebemos que não somos o centro do universo, mas um planeta de um sistema solar secundário e, por outro lado, entendemos que não somos uma coisa única, somos feitos de pequenas partículas vivas que chamamos de células. Ou seja, o telescópio e o microscópio mudaram a cosmologia e a antropologia. Hoje, a inteligência artificial, que estuda não o infinitamente grande ou pequeno, mas o infinitamente complexo, está reescrevendo nossa compreensão da realidade e de nós mesmos e nos levando a uma nova fase do conhecimento. No entanto, pensadores como Pascal Bruckner argumentam que, com a transformação digital, passamos da era da compreensão à da distração. Dizer que a era digital é apenas uma época da distração é o mesmo que dizer que há uma competição entre o homem e a máquina. Isto não está certo. A máquina é um instrumento. É verdade que também pode ser uma arma, mas como instrumento pode ampliar nossas capacidades de conhecimento. E quais são, em sua avaliação, os maiores riscos éticos da inteligência artificial? A máquina pode chegar a tirar a liberdade do ser humano? Se aplicarmos os algoritmos à liberdade das pessoas, não só serão capazes de prever um comportamento, como também de produzi-lo. Nas plataformas, sabem disso muito bem, pois quando fazem sugestões aos usuários, não só estão prevendo o seu comportamento, como também fazendo com que comprem determinadas coisas. Este é o motivo pelo qual precisamos ter uma boa governança sobre essas inovações. Então, o dilema ético não está na tecnologia em si, mas nos seres humanos que a controlam? É importante destacar que a máquina sozinha não faz nada. Os homens podem delegar tarefas às máquinas ou utilizá-las para controlar outros homens. Os riscos dependem do que o homem quer que a máquina faça. Quando falamos de riscos e problemas éticos, a questão deve sempre recair sobre o lado humano. A máquina não inicia sozinha, não se constrói sozinha, não começa a funcionar sozinha. Portanto, é uma questão do que queremos que a máquina seja e o que queremos que ela faça. Quais são os desafios políticos e sociais desta era digital em que estamos imersos? A realidade que estamos vivendo está definida pelo software. Nos dispositivos, nós, usuários, somos proprietários do hardware, mas temos apenas uma licença de software. No Direito Romano, eram estabelecidos três direitos relativos à propriedade de uma coisa: usus, abusus e fructus. Podemos usar nosso celular ou tablet como quisermos, mas os frutos desse uso não são nossos, vão para a nuvem ou outro tipo de formato. E isto é importante, porque na Roma Antiga aqueles que eram privados dos frutos das coisas eram os escravos. Fonte: Site Instituto Humanitas Unisinos Matéria Completa: Acesse Aqui
RELIGIÃO – A religião como arma na política brasileira. Artigo de Ana Carolina Evangelista

Ana Carolina Evangelista, cientista política, é diretora-executiva e pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião (ISER) do Rio de Janeiro. “No contexto de crises, os políticos, religiosos ou não, utilizam o religioso e as suas formas contemporâneas mais individualistas e dogmáticas como forma de apresentar alternativas que prometem o retorno à ordem, à previsibilidade, à segurança e à unidade. Na política brasileira atual, a religião é um recurso discursivo de pertencimento e recuperação da ordem utilizado pelos ultraconservadores, ou neoconservadores, para fazer avançar suas agendas nos espaços institucionais”. A reflexão é de Ana Carolina Evangelista, em artigo publicado por Le Monde Diplomatique Cono Sur, edição de fevereiro de 2025. A tradução é do Cepat. Eis o artigo. A religião parece brotar da terra toda vez que se analisa hoje a política no Brasil, e não apenas no Brasil. Seja durante os processos eleitorais ou nos corredores dos poderes Executivo e Legislativo, não passa um dia sem que falemos sobre como está a intenção de voto do segmento evangélico, ou sobre o posicionamento do deputado A, B, C… que tem manifestado suas referências religiosas para justificar seu voto ou seu novo projeto de lei, e as repercussões que isso teria no Governo. Mas o que aconteceu? Por que vemos mais religião na política? Ela sempre esteve aí e simplesmente não prestávamos atenção nisso? Por que já não é mais possível falar de eleições e de política sem que um pouco de religião queira aparecer? E será que tudo realmente tem a ver com religião? Eu diria que não. Se extrapolarmos para o contexto brasileiro uma pesquisa recente publicada nos Estados Unidos, talvez mais pessoas comecem a se perguntar se de fato estamos falando de uma invasão indiscriminada da religião na política ou se estamos testemunhando uma incorporação sistemática, radicalizada e instrumental da religião por um dos polos político-ideológicos. A segunda opção parece mais precisa. A diferença religiosa O Pew Research Center entrevistou cerca de 12.600 adultos em fevereiro de 2024 e constatou que a grande maioria dos adultos estadunidenses concorda que a influência da religião na vida pública está diminuindo: 80% deles, a percentagem mais alta já registrada pelo instituto nas suas pesquisas. Porém, metade considera isso algo negativo. Mas qual metade? Existem diferenças importantes entre republicanos e democratas, entre evangélicos e católicos, entre adultos mais velhos e adultos jovens. Entre os republicanos, 68% consideram o declínio da influência da religião na sociedade uma coisa má, em comparação com apenas 33% entre os democratas. A mesma pesquisa indica que a maioria apoia o princípio da separação entre Igreja e Estado, e poucos acreditam que o Governo Federal deveria declarar o cristianismo como religião oficial do país. No entanto, existe uma aparente divisão entre aqueles a favor e contra a promoção dos valores morais cristãos pelo Governo: 44% contra 39%. Nem tudo tem a ver com a religião, mas muito tem a ver com a polarização. Os adultos jovens são mais propensos do que os adultos mais velhos a dizer que o governo não deve declarar o cristianismo como religião oficial ou promover os valores morais cristãos. Da mesma forma, são os mais jovens que rejeitam com mais veemência a ideia de que a diminuição da influência da religião na vida pública seja algo negativo. Há também um sentimento crescente de que as próprias crenças religiosas das pessoas entram em conflito com a sociedade em que vivem e que é melhor não discutir diferenças religiosas. Fonte: Site Instituto Humanitas Unisinos Matéria Completa: Acesse Aqui