ARTIGO – OLHAI AS ESTRELAS…
Na véspera de ano novo me afastei um pouco do grupo e fui olhar as estrelas. Há muito tempo não fazia isto. Na cidade parece não existir mais estrelas. Quase nunca olhamos para o céu. Fiquei emocionado. Eram muitas, milhares, grandes, pequenas, perto, longe. Mas, todas brilhavam, piscavam. Cada uma do seu jeito. Todas em harmonia, formando um painel brilhante. (há mais de 10 sextilhões de estrelas). Olhei para as pessoas pensando: também somos estrelas na terra. Cada um tem sua dimensão, sua identidade, sua luz própria. O sonho é vivermos em harmonia e formarmos um painel brilhante, humano. Li o trabalho realizado por uma nave espacial europeia chamada Gaia. Ela está fazendo observações sobre a nossa galáxia Via Láctea. As últimas observações foram sobre 2 bilhões de estrelas, correspondendo a 1% da Via Láctea. Haja céu pra ser olhado. (Olha pro céu, meu amor). Olhar e desejar harmonia para 8 bilhões de pessoas é uma dura tarefa. Mas o mais difícil é o viver em paz destas estrelas. Cada uma ser ela mesma. Deixarem que sua luz brilhe e seja respeitada. Que ela participe desse universo humano estrelado. Incrível é que os cem bilhões de galáxias tenham origem no círculo amoroso trinitário criativo e que o círculo amoroso humano tenha dificuldade na conexão amorosa com o círculo divino. Mas alguém mostrou o caminho, abriu a porta…Jesus de Nazaré. Colunista: Ozanir Martins Silva (Festa do Santíssimo nome de Jesus).
ARTIGO – PROFECIA E TEOLOGIA NO FEMININO PLURAL
Com estas reflexões desejo caminhar em busca das pegadas deixadas por algumas mulheres, ao longo da história do Povo de Deus. Uma história que conhecemos a partir de grandes homens do passado, patriarcas, profetas, reis, escravos, sacerdotes e seus servos…uma história que parece muito linear e cujos conflitos são facilmente resolvidos a partir dos homens, dos homens de poder e de seus interesses. Assim nos ensinaram, assim aprendemos e, muitas vezes, reproduzimos. Com o passar dos anos, aprendemos que na vida e na história nada é linear, nem fácil e que, muitas vezes, o que não se diz, o que não se quer lembrar, não se quer mostrar pode ser muito interessante, importante e necessário para compreender não só a história do mundo, dos povos, mas a nossa própria vida e história. Foi assim que nós, as mulheres, nos desafiamos a reler, pesquisar, refletir e produzir nossas reflexões, com nossos olhos, nossa cabeça, nosso coração e nosso corpo. Pessoalmente me senti desafiada a buscar justamente o que no Livro e também nas pesquisas parece nem ter existido, não aparece, não é escrito. As que mais faltam são mulheres, sobretudo mulheres empobrecidas: nos textos sagrados não tem nomes, nem ações, nem vida de mulheres, por séculos. Então senti que precisava trazê-las à luz, encontrar suas pegadas mesmo que enterradas sob séculos de opressão patriarcal e sagrada, mais pesada que camadas de areia, resgatar e revelar suas memórias que resistiram e fortaleceram a caminhada de mulheres e homens e chegaram até nós, que ainda sofremos exclusões e opressões, mas buscamos resistir, caminhar, iluminar nossas vidas e a vida de todo o povo que sempre busca uma terra boa e farta, terra de leite e mel, terra de paz. É este o caminho que proponho, acolhendo o convite de algumas mulheres do MFPC, para partilhar reflexões que nunca foram somente minhas, mas uma construção de quem me encorajou e fortaleceu no desafio que me propôs. Reflexão muitas vezes partilhada e verificada junto a mulheres camponesas, ribeirinhas, presas, estudiosas da bíblia, parceiras nos caminhos de pastoral e bíblia, por onde ando nos meus mais de 40 anos de vida missionária no Brasil, sobretudo na Amazônia. Vamos juntas, então, encontrar companheiras menos conhecidas do Povo da Bíblia, que nos enriquecem com sua reflexão que é teologia e profecia, por revelar um rosto de Deus que Jesus nos revelou e mostrou de forma definitiva, nascendo de mulher, de Maria de Nazaré, com quem conviveu até seus 30 anos, na vilazinha da periferia do império romano, longe do templo e dos palácios, onde ele só entrará, no final de sua vida, amarrado e arrastado! Colunista: Ana Maria Galazzi
MUNDO – Em Gaza não há presentes, se as crianças pudessem escrever ao Papai Noel apenas pediriam para morrer
A milhares de quilômetros de distância dos movimentados mercados, adornados com luzes cintilantes e o toque dos sinos de Natal, existe outro mundo O testemunho: mais de 444 dias de vida suspensos, e enquanto o mundo festeja, na Faixa de Gaza os pequenos procuram restos de comida podre no meio do lixo. Suas mãos estão levantadas não em comemoração, mas para se protegerem de mísseis. O artigo é de Rita Baroud, estudante palestina, publicado por Repubblica, 24-12-2024. EIS O ARTIGO Mais de 444 dias de vida suspensos em Gaza. Aqui, o tempo parou de fluir. Sem escolas, sem trabalho, sem esperança. Apenas dias que na sua dor se espelham, como réplicas infinitas da mesma catástrofe. Dias suspensos no vazio, oprimidos pelo eco das explosões e pelo som incessante das balas, uma lembrança constante de que a vida aqui é diferente de qualquer outra vida, em qualquer outro lugar. A milhares de quilômetros de distância dos movimentados mercados, adornados com luzes cintilantes e o toque dos sinos de Natal, existe outro mundo – um mundo que não conhece nem o calor das férias nem as bênçãos da paz. Aqui em Gaza, onde o barulho dos aviões e das explosões nunca cessa, a alegria do Natal está ausente, substituída por uma realidade sombria que escapa a qualquer descrição humana. Hoje em dia, enquanto o mundo acende árvores de Natal e levanta orações pela paz, levantamos as mãos, não em celebração, mas numa tentativa desesperada de proteger as nossas crianças do terror dos mísseis. Nas ruas da minha cidade não há decorações nem risadas – apenas restos de casas destruídas e sonhos desfeitos. No meio deste inferno, o inverno chega como um hóspede indesejado, trazendo apenas mais sofrimento. Gaza conhece bem a dor, mas em dezembro esta torna-se ainda mais insuportável. Aqui, os presentes não são trocados debaixo das árvores; em vez disso, escassas rações alimentares são distribuídas em longas filas, acompanhadas pelo medo de que os suprimentos acabem antes de chegar a todos. Gaza existe à margem da vida, isolada de um mundo que parece perdido nas suas celebrações, submerso no brilho das suas festividades. No inverno, o sofrimento do povo de Gaza duplica. As famílias ficam presas entre o frio intenso do inverno e paredes em ruínas que não oferecem proteção. As crianças dormem no chão congelado, os seus rostos pálidos contando histórias de fome e frio. O inverno aqui não é apenas mais uma estação; é mais um teste de resistência contra o insuportável. As vielas estreitas, agora inundadas de lama depois das chuvas, obrigam as crianças descalças a caminhar por caminhos enquanto os seus pequenos corpos tremem. As famílias vivem em tendas esfarrapadas cercadas por poças de água após as tempestades, enquanto as crianças tentam fazer fogueiras usando lixo apenas para aquecer as mãos. Ontem à noite, enquanto caminhava pelos becos do bairro, tentando comprar alimentos exorbitantes e escassos a ponto do desespero, perguntei às crianças que conheci: “O que vocês querem?” Seus rostos estavam cansados, suas expressões contavam histórias de exaustão que não deveriam pertencer à infância. Mas havia uma menininha, de não mais de cinco anos, que me impressionou mais do que tudo. Ele carregava no ombro uma caixa de papelão na qual recolhia restos de comida podre que recuperava de pilhas de lixo. Sua imagem por si só teria sido suficiente para partir qualquer coração. Eu perguntei a ela: “O que você quer?” Ela parou por um momento e depois respondeu com uma voz suave que carregava o peso do mundo: “Gostaria de encontrar comida para alimentar meus irmãos mais novos. Meu pai perdeu membros e minha mãe foi martirizada. Eu sou responsável por eles.” Eu não pude responder. As palavras me falharam quando olhei para ela. Naquele momento, minha busca por comida não importava mais. Tudo parecia insignificante comparado à dor naqueles olhinhos. Em todo o mundo, crianças escrevem cartas ao Papai Noel pedindo brinquedos e presentes. Eles decoram árvores de Natal e enchem suas casas de risadas e alegria. Mas em Gaza não há cartas nem partidos. Aqui, se as crianças escrevessem alguma coisa, não seria para pedir brinquedos ou presentes. Pediriam apenas uma coisa: a morte, como fuga de uma vida que lhes roubou a infância e destruiu os seus sonhos. Fonte: Site Instituto Humanitas Unisinos Matéria Completa: Acesse Aqui