Opinião: A nova roupagem da agroecologia

Há cinco anos morria Ana Primavesi, agrônoma que ensinou o respeito pela terra e semeou a revolução agroecológica Naquela visita ao campo, o agricultor colhia as batatas graúdas e bonitas que havia plantado. Com seu olhar de raios X, Ana Primavesi sabia que as batatinhas estavam daquela forma pelo uso de agrotóxicos e adubação com nitrogênio, o que resultaria em uma falta de cálcio. Batatinhas assim eram ricas em uma substância, a solanina, que arde na garganta. Ana perguntou: “Estas batatinhas estão boas?” O homem se virou e respondeu, espantado: “Credo! Essas batatinhas não são para comer!” “Mas para que o senhor plantou então?” – Ana reagiu. “Para vender!” O relato de Ana Primavesi mostra exatamente como o solo tem sido tratado: mero suporte de adubos, algo a ser explorado e trabalhado, sem que se considere sua natureza geológica, sua gênese e importância. “A agricultura tem sido a arte de explorar solos mortos”, ela dizia. E a cada palestra, aula ou curso que participava, Ana mostrava o passo a passo da dinâmica que mantinha o solo vivo, com poros para entrada de ar, água, penetração da raiz e boa circulação dos nutrientes. Solo é rocha decomposta, e são necessários cerca de 400 anos para 1 cm de terra ser formado. Ana escreveu: “O solo não é um suporte para adubos, água de irrigação e culturas, mas um organismo vivo, cujo esqueleto é a parte mineral, os órgãos são os micróbios que ali vivem e o sangue é a solução aquosa que circula por ele. Respira como qualquer outro organismo vivo e possui temperatura própria. Necessita tanto das plantas como as plantas necessitam dele.” A defesa da vida do solo foi o grande baluarte da vida dessa cientista. Recuperação de solo Na década de 1950, Ana e seu marido Artur Primavesi são convidados por um grupo de agrônomos para “tornar as terras de Sorocaba (interior de São Paulo) novamente férteis”. A fazenda para a qual destinavam o plantio, terra devoluta, contava com um solo extremamente degradado. O desafio era não só recuperar o solo: eles deveriam plantar trigo, pois se comia o pão, mas não se plantava o cereal no Brasil, tendo que importá-lo. Foi uma revolução. O trigo colhido era da melhor qualidade, e o solo estava plenamente recuperado. A proeza colocava em xeque um aspecto muito importante da agricultura: o de que ela é um processo extrativo. O de que, para se plantar, devemos explorar o solo. Fonte: Site Globo Rural Matéria Completa: Acesse Aqui