SOCIEDADE – Cinema: Religião e política em meio à ditadura
O Pastor e o Guerrilheiro aborda o elo perdido entre comunidades pobres e evangélicas e os militantes de classe média. No filme, uma estudante lê o livro de um combatente do Araguaia — que, no passado, filosofa com um “crente” sobre um Jesus revolucionário Em seu filme O Pastor e o Guerrilheiro (2023), José Eduardo Belmonte procura mostrar como os dejetos emocionais da ditadura atravessam as décadas e permeiam o cotidiano, sem a permissão daqueles que tentam viver o presente. As marcas da violência parecem uma película fina que cobre tudo ao redor, mas que só é realmente perceptível a quem se dispuser a olhá-la com atenção. O fio condutor do filme é Juliana (Julia Dalavia), uma estudante universitária que se engaja nas lutas dos movimentos estudantis de esquerda e, ao se interessar pelo livro perdido de um antigo guerrilheiro do Araguaia, abre um portal para os tempos da ditadura. Ao ler a obra Juliana faz dois tempos históricos — o dela e o do livro — se entrelacem, mostrando a duração das consequências que um período político violento pode ter na vida de todos. Zaqueu (César Mello), por exemplo, era apenas o pastor de uma comunidade simples que foi confundido com um militante e por isso foi parar na cadeia dirigida pelos militares. Ele não tinha qualquer vontade de se associar com os comunistas ou com os militares, mas a neurose do regime em vigor logo o identificou como suspeito. Assim, mesmo sem querer envolvimento direto com o Estado ou com a resistência, Zaqueu é obrigado a conviver com os dois, e de certa forma, escolher um lado. Já Miguel é companheiro de cela do pastor, além de ser guerrilheiro e autor do livro que acompanha Juliana. Ele e Zaqueu entram então em uma convivência forçada em uma das celas imundas do centro de tortura militar. E a partir de então começam a ter discussões filosóficas sobre qual seria a real diferença entre um crente e um guerrilheiro e quais seriam as vontades de um revolucionário como Jesus em um regime de exceção como a ditadura. O filme é um produto perfeito de seu próprio tempo histórico, muito mais do que dos que pretende representar. Ele procura uma espécie de elo perdido entre as comunidades pobres e evangélicas e os revolucionários universitários de classe média, sem deixar escapar a óbvia separação racial que também perpassa essa divisão. As polarizações políticas de hoje aparecem em suas formas embrionárias no passado recente de nossa formação democrática. Fonte: Site Outras Palavras Matéria Completa: Acesse Aqui
RELIGIÃO – O caso Sodalício põe em perigo a soberania do Vaticano, a liberdade religiosa e os esforços antiabuso
Ano passado, o Papa enviou os seus dois principais investigadores em casos de abuso sexual, o arcebispo maltês Dom Charles Scicluna, e o monsenhor espanhol Jordi Bertomeu, ao Peru para abrir uma investigação sobre o Sodalitium Chistianae Vitae Admito que sugerir que Castillo, de 74 anos, pode enfrentar o desafio imediato mais difícil de qualquer um dos novos cardeais é uma afirmação ousada. Afinal de contas, os seus colegas empossados incluem o cardeal Ladislav Nemet, o primeiro cardeal na história da Sérvia, país predominantemente ortodoxo onde os habitantes locais não têm sido tradicionalmente entusiasmados com “a Igreja de Roma”, e o cardeal Dominique Joseph Mathieu de Teerã, no Irã. Não é preciso dizer mais nada. No entanto, quando Castillo regressar ao Peru, encontrará um processo criminal contra um funcionário do Vaticano, com implicações para a imunidade e soberania diplomática do Vaticano, para a liberdade religiosa, para a capacidade do Vaticano de gerir escândalos e má conduta, e para a vontade do clero católico em todo o mundo de responder quando o Vaticano pedir ajuda. Em uma palavra: “Ufa!” Ano passado, o Papa enviou os seus dois principais investigadores em casos de abuso sexual, o arcebispo maltês Dom Charles Scicluna, e o monsenhor espanhol Jordi Bertomeu, ao Peru para abrir uma investigação sobre o Sodalitium Chistianae Vitae, movimento fundado pelos leigos peruanos Luis Fernando Figari em 1971, e que agora enfrenta múltiplas acusações de abuso. No início deste ano, duas pessoas que testemunharam nessa investigação apresentaram uma queixa criminal contra Bertomeu nos tribunais peruanos, alegando que ele tinha violado a sua privacidade ao divulgar as suas identidades e o conteúdo dos seus depoimentos à imprensa. Estas alegações foram contestadas por outras partes, incluindo jornalistas peruanos que afirmam que os seus colegas fotografaram as duas pessoas que saíam da embaixada papal em Lima, onde ocorreram as entrevistas, e foi assim que foram identificadas. Em outubro, a queixa foi transferida por um procurador local para o procurador-geral e não está claro o que acontecerá a seguir. Se tal processo for permitido, poderá estabelecer precedentes preocupantes em pelo menos cinco áreas, nenhuma das quais tem qualquer relação direta com a questão de saber se Bertomeu fez as coisas de que foi acusado. Fonte: Site Instituto Humanitas Unisinos Matéria Completa: Acesse Aqui