MUNDO – A eleição de Trump e o sistema mundial

Washington já não afirmará sua “excepcionalidade moral” e buscará fazer prevalecer seus interesses exercendo a força. Mas a China preparou-se, o Oriente Médio mudou e a Rússia está mais forte. Vem aí uma nova corrida às armas A maioria dos analistas está de acordo que o fracasso internacional do governo de Joe Biden teve um papel importante na vitória de Donald Trump, nas eleições do dia 5 de novembro de 2024. Com destaque para a humilhante retirada americana do Afeganistão; para o fracasso da OTAN na Guerra da Ucrânia; ou finalmente, para a ambiguidade dos EUA frente ao genocídio israelense da Faixa de Gaza, divididos entre seus apelos humanitárias e o fornecimento direto das armas, do dinheiro e das informações utilizadas pelo governo de Israel no bombardeio da população palestina. Neste momento ainda não se pode saber se a reeleição de Donald Trump será apenas uma rodada a mais da “gangorra” política americana. Desta vez, entretanto, Trump não pode reeleger-se e terá um mandato de apenas quatro anos; mas ao mesmo tempo contará com uma maioria conservadora no Congresso, no Senado e na Corte Suprema, e disporá de uma equipe de auxiliares homogênea. O que lhe permitirá, em princípio, levar à frente, de forma rápida e imediata, a sua ”agenda nacional”. Na área internacional, entretanto, o horizonte é menos claro. Neste campo a consigna básica de Donald Trump foi sempre a mesma: “a paz através da força”, e não pela guerra. Mas além disso o projeto internacional de Trump abre mão da “excepcionalidade moral” dos EUA, e adota o “interesse nacional americano” como única referência de todas as suas escolhas, decisões e alianças que poderão variar através do tempo. Seguindo-se daí o ataque de Donal Trump contra todas as instituições multilaterais, e contra todos os acordos e regimes comerciais, ou associados com a “questão climática” e a “transição energética”. As “políticas internas” de Trump envolvem decisões soberanas e autônomas, e poderão ser tomadas sem maiores consultas a outros países e governos. Mas no caso da agenda internacional do novo governo, o problema é muito mais complexo, porque envolve acordos passados dos EUA, e se enfrenta com a vontade soberana de outros países, e de outras grandes potencias, como no caso da China, do Irã, da Rússia, ou mesmo dos seus aliados da OTAN. Com relação à China, é muito provável que Donald Trump consiga negociar acordos comerciais e tecnológicos pontuais. Mas a competição e o atrito entre os dois países deve se manter e aumentar de intensidade nos próximos anos. Até porque a China já foi definida pelos estrategas americanos, faz algum tempo, como principal competidor e a principal ameaça aos Estados Unidos, no Século XXI. Nesse campo se pode falar inclusive de um consenso bipartidário, entre democratas e republicanos, com diferenças apenas de gradação e intensidade. De fato, o governo Biden manteve a mesma política protecionista contra China do primeiro governo de Trump. Com a diferença que agora a China se encontra melhor preparada e não será surpreendida como aconteceu no primeiro governo Trump. Além disto, nestes anos recentes a China aprofundou sua relação econômica com seus vizinhos asiáticos, e com os países africanos e latino-americanos. E desde o início da Guerra da Ucrania, em 2021, os chineses estreitaram seus laços econômicos e sua aliança estratégica com a Rússia, fechando a porta para qualquer tentativa de repetir a estratégia de Henry Kissinger, do século passado, só que agora invertendo os papéis da China e da Rússia. Fonte: Site Outras Palavras Matéria Completa: Acesse Aqui

RELIGIÃO – “O Sínodo demonstrou que a Igreja Católica mantém uma confusão que impede qualquer reflexão séria sobre o exercício do poder”. Artigo de Paule Zellitch e Guy Legrand

  Paule Zellitch, presidente da Conférence catholique des baptisés francophones, e Guy Legrand, membro da CCBF, deploram a persistência de uma modalidade de governo arcaica e antidemocrática na Igreja, que “não é estranha à imensa dificuldade do sistema eclesial em combater os abusos”. Em sua forma atual, um sínodo dos bispos é uma assembleia consultiva e deliberativa, com o papa tendo a palavra final. O objetivo inicial do último sínodo, cuja assembleia geral, também aberta a alguns leigos, terminou no final de outubro, era pensar quais mudanças fossem desejáveis na Igreja, no contexto das revelações sobre a disseminação dos abusos de todos os tipos cometidos por padres. No decorrer do processo sinodal, o objetivo primário foi perdido de vista em favor dos meios a serem utilizados para alcançá-lo. O “método sinodal”, o “método de sínodo”, foi usado para avaliar a eficácia do sínodo. O “método sinodal”, concebido como um fim em si mesmo, tornou-se o principal objetivo desse sínodo. Como resultado, a assembleia não conseguiu enfrentar uma série de questões importantes, especialmente os fundamentos da governança. Recusa do debate Em primeiro lugar, quando aos católicos é dada a palavra, eles a usam. O sínodo deu a palavra aos fiéis que, em sua maioria, a usaram, no quadro da ampla consulta organizada na fase de preparação. Assim, apesar da inevitável diluição e reformulação das sínteses produzidas pelos bispos de cada país e depois de cada continente, a reivindicação por uma maior igualdade entre homens e mulheres nas funções eclesiásticas emergiu amplamente da consulta em todo o mundo. No entanto, durante as assembleias gerais do sínodo, assistimos a uma recusa de princípio do debate [o tema do diaconato feminino, entre outros, foi excluído das discussões] como método de construção de consenso pela instituição eclesial. Uma recusa implementada com a escolha da noção de “conversação no Espírito Santo”: o objetivo era reduzir o espaço para o debate e o confronto construtivo, percebido pelo magistério da Igreja como um ataque ao seu conceito de unidade, herdado nas suas modalidades do Império Romano, a partir da época de Constantino. Esses elementos são característicos do paradoxo que esse sínodo deveria ter resolvido: a Igreja Católica Romana, sociedade organizada em ordens hierárquicas, pode coexistir hoje em uma sociedade civil cujo princípio fundamental, agora secular, é a igualdade dos indivíduos, com a organização social que disso resulta? A Igreja e a sociedade civil operam de acordo com dois modelos antinômicos. Uma sociedade de ordens, organizada em duas castas separadas e hierarquizadas (clérigos e leigos), diante de uma sociedade baseada na igualdade dos direitos, sem distinção entre os sexos, com características diferentes: Fonte: Site Instituto Humanitas Unisinos Matéria Completa: Acesse Aqui

ECONOMIA – Os super-ricos pagam uma taxa média de imposto entre zero e 0,5%”. Entrevista com Jayati Ghosh

Nesta entrevista, realizada no mês passado em Washington, a economista Jayati Ghosh, uma das promotoras da ideia do imposto para os super-ricos, explica porque é necessário e como seria concebido. A cúpula do G20, que se realiza nos dias 18 e 19 de novembro sob a presidência brasileira no Rio de Janeiro, está prestes a chegar a um consenso sobre uma proposta ousada de aplicação de um imposto sobre a riqueza ou o rendimento dos chamados “super ricos” do planeta, uma das prioridades do Governo Lula. Se isto acontecer, os Estados poderão ter entre 200.000 e 250.000 milhões de dólares em rendimentos adicionais em todo o mundo. Neste momento, como destacou Lulano seu discurso no início da cúpula, 3.000 pessoas têm uma riqueza superior a 13 biliões de dólares – mais do que o PIB agregado da América e da América Latina – enquanto 733 milhões de pessoas passam fome. Apenas um dos 19 países reunidos esta semana se opõe à proposta: a Argentina, cujo presidente, Javier Milei, chegou ao Rio após participar do banquete oferecido porDonald Trump em sua residência em Mar-a-Lago, em Palm Beach, para comemorar sua vitória e em que foi fotografado com o apresentador e com o homem mais rico do mundo, Elon Musk. Nesta entrevista, realizada no mês passado em Washington, a economista Jayati Ghosh, uma das promotoras da ideia do imposto para os super-ricos, explica porque é necessário e como seria concebido. Nascida na Índia em 1955, Ghosh é uma especialista em desenvolvimento da escola heterodoxa, que após 35 anos na Universidade Jawaharlal Nehru, em Deli, ingressou no departamento iconoclasta de Ciências Econômicas da Universidade de Amherst, em Massachusetts, juntamente com Bob Pollin e Isabella Weber. Fonte: Site Instituto Humanitas Unisinos Matéria Completa: Acesse Aqui