ARTIGO – O ESPELHO COMO ELEMENTO PARA EXPLICAR A RELAÇÃO BEBÊ E MÃE
O primeiro espelho da criatura humana é o rosto da mãe: o seu olhar, sorriso, expressões faciais, tom de voz… Mais adiante, ele completa com outra frase que traduz o possível, protopensamento da criança: ‘olho e sou visto, logo, existo’. Sem esse olhar reconhecedor da mãe, a criança cai num estado de desamparo, sendo que pior do que o espelho de uma mãe que distorce a imagem do filho quando ela responde e reflete mal as necessidades dele, é quando essa mãe comporta-se como um espelho embaçado, opaco, que nada reflete (Zimerman, p. 112). A convivência entre mãe e filho expressa no amor e cuidado, baseia-se em uma unidade inconsciente de intima e mútua relação. Os primeiros momentos de existência são marcantes na formação da personalidade. Por outro lado, o que acontece de ruim pode ser traumático, vejamos o que acontece com um bebê quando ainda nos primeiros meses de existência sofre com o abandono materno. Como diz Melanie Klein: Ao mesmo tempo, a frustração, o mal-estar e a dor, percebidos, segundo sugeri, como perseguição, entram também em seus sentimentos a respeito da mãe, por que os primeiros meses ela representa para a criança o todo do mundo externo; desse modo, tanto o que é bom como o que é mau chegam-lhe à mente provindo da mãe, e isto leva a uma atitude dúplice em relação a ela mesmo sob as melhores condições possíveis (KLEIN, Malainie. O sentimento de solidão, p. 4). Uma criança possui, embora de maneira inconsciente a capacidade de amar e odiar. Os impulsos destrutivos e seus concomitantes – tais como o ressentimento por frustração, o ódio que ela desperta, a incapacidade para se reconciliar, e a inveja do objeto todo poderoso, a mãe, de quem dependem sua vida e seu bem-estar – essas várias emoções despertam ansiedade persecutória na criancinha (KLEIN, p.4). Para a concepção freudiana existem dois tipos principais de angustia, a mais primitiva, conhecida como automática e a de sinal. Ambos os tipos de angustia, a automática e o sinal, são tidos como derivados do ‘desamparo mental da criança pequena, que equivale ao desamparo biológico’. A angústia automática ou primitiva denota uma espécie de ração espontânea ligada a um medo de destruição completa resultante da sensação de opressão total; não implica a capacidade de julgar ou perceber a origem dos estímulos irresistíveis e diferencia-se, assim, do sinal de angústia. A função do sinal de ‘angústia que a ansiedade primaria (automática) nunca seja sentida, ao permitir que o ego tome precauções de defesa’ (grifo meu). Portanto, estamos falando de uma situação em que aprendemos a distinguir os indícios ou sinais de aviso assimilados em experiências anteriores ruins, desagradáveis ou traumáticas, a fim de evita-los (EMANUEL, Ricky. Conceito de psicanálise – angustia, p. 16). Emanuel fundamenta a angustia como uma dor psíquica. Essa dor, embora cause profundo sentimento, é necessária para o desenvolvimento da criança. Tanto a demasia ou falta da dor impedem o desenvolvimento. O fundamental é que não falte a figura da mãe que o compreenda e esteja sintonizada com suas emoções. Os gritos do bebê atraindo e sendo acalentado pela mãe não são expressões consciente, mas são ações de conflito. Eles se traduzem em pedido por conforto levando a assimilar que a mãe representa segurança e que está sendo compreendida. Isso contribui para descoberta dos sentimentos e de seus significados. Quando a criança não encontra a mãe compreensiva em que projeta suas emoções, ocorre que esforçará ainda mais para livrar-se dos sentimentos ruim, piorados por não ser compreendida e atendida. Esta criança terá dificuldade em internalizar sobre seu eu. Dessa forma terá dificuldade para desenvolver um método de lidar com as emoções. Isso significa que procurará adicionar os mecanismos de defesas com mais intensidade. Lidar com o ser humano é um dos desafios mais incrível e também uma das experiências mais fantástica. Cada pessoa carrega uma capacidade de conhecimento e transformação inesgotável. Assim, enquanto mais conhecemos uma pessoa, mais descobrimos que precisamos conhece-la.