ECOTEOLOGIA PARTE 3- UNIDADE 1- INTER-RELAÇÕES E CONTRIBUIÇÕES ECOAMBIENTAIS DAS RELIGIÕES

4.O COMPROMISSO DAS IGREJAS CRISTÃS COM A JUSTIÇA SOCIOAMBIENTAL “Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seus semelhantes.” (Albert Schweitzer, Prêmio Nobel da Paz, 1952) Todos nós sabemos da importância socioambiental para a sobrevivência do planeta. Por séculos o ser humano retirou da terra tudo o que precisou para seu sustento, e ainda o faz com grande ferocidade – sem generalizar, pois há quem ainda cuide da terra, adubando e plantando para seu sustento e dos demais. Igrejas de diversas denominações religiosas sabem da urgente necessidade do cuidado com o planeta Terra, que se encontra com seus recursos naturais superexplorados e, em alguns lugares, já esgotados. O cristianismo reconhece a tensão existente entre a responsabilidade da humanidade no que diz respeito ao cuidar da criação de Deus e a tendência humana de rebelar-se contra Deus. Várias igrejas cristãs, nas últimas décadas, revisaram seus ensinamentos e práticas à luz da crise ambiental. (FRANKY; AGUIRRE, 2016, p. 129) O líder religioso da Igreja Católica, Papa Francisco, escreve na Laudato Si, sobre o cuidado da casa comum, que é urgente refletir, dialogar e buscar soluções para a crise ecológica em que vivemos. Devido ao grande crescimento da população, o ambiente natural está perdendo espaço; o ritmo de consumo, desperdício e alterações do meio ambiente superou as possibilidades do planeta. O estilo de vida atual é insustentável. Durante o Encontro Internacional de Oração pela Paz, organizado em Roma pela Comunidade de Santo Egídio, no dia 20 de outubro de 2020, Bartolomeu I envia mensagens para os ilustres representantes das grandes religiões do mundo. Em sua carta, o bispo ortodoxo atenta que devemos cuidar da nossa casa comum, ou seja, salvar e proteger o ecossistema da terra. Reforça que os quatro elementos naturais – ar, água, fogo e terra – são fundamentais para o desenvolvimento harmonioso da vida e o futuro normal do mundo. O Papa Francisco menciona na Laudato Si que o ambiente humano e o ambiente natural degradam-se em conjunto. Não podemos enfrentar a degradação ambiental se não prestarmos atenção às causas que têm a ver com a degradação humana e social. É fundamental buscar soluções integrais para os sistemas naturais e sociais. A melhor maneira de colocar o ser humano no seu lugar e acabar com a sua pretensão de ser dominador absoluto da terra é propor a figura de um Pai Criador e único dono do mundo. Hoje, a Igreja não diz de forma simplista que as outras criaturas estão totalmente subordinadas ao bem do ser humano. A humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilo de vida, de produção e de consumo, para combater o aquecimento global ou, pelo menos, as causas humanas que o produzem ou o acentuam. A maior parte dos habitantes do planeta declara-se crente, e isso deveria levar as religiões a estabelecerem diálogo entre si, visando ao cuidado da natureza, à defesa dos pobres e à construção de uma trama de respeito e de fraternidade. Dentro do mosaico do pluralismo religioso há uma importante tarefa para a tradição judeu-cristã de dar um giro paradigmático, para ser coerente com o cuidado da Criação. Daí que escrutinar o Apocalipse e interpretar adequadamente as Sagradas Escrituras deve ser um dos principais exercícios para que se estruture uma ecoteologia cristã, pertinente ao mundo de hoje. (FRANKY; AGUIRRE, 2016, p. 133) O cuidado do meio ambiente faz parte da missão da Igreja Metodista, que teve definido o ano de 2019 como um tempo para pensar o cuidado com o meio ambiente, com o tema “Discípulas e discípulos nos caminhos da missão cuidam do meio ambiente”. Esse tema propõe, como uma das sugestões de ação, o desenvolvimento de um programa de educa- ção ambiental que contemple assuntos como consumo consciente, uso racional da água e da energia, combate à poluição, tratamento adequado do lixo e alimentação saudável. A Igreja Anglicana foi fundada na Inglaterra em 1534, por meio do Rei Henrique VIII, que rompeu com a Igreja Romana e sua dominação papal. Assim como a Igreja Católica, segue as Sagradas Escrituras e pratica os sacramentos do Batismo e da Eucaristia. No início do ano de 2019, a Rede Ambiental da Comunhão Anglicana (ACEN – Anglican Communion Environmental Network) solicitou a todos anglicanos do mundo que utilizassem menos plásticos na Quaresma, com a intenção de proteger o meio ambiente. A coordenadora ambiental da Igreja Anglicana do Sul da África, Cônega Rachel Mash, disse que por volta de 2050 haverá mais plástico do que peixes nos oceanos. “Nós produzimos aproximadamente 300 milhões de toneladas de plástico todos os anos, e metade disto é descartável”, informou. “Mundialmente, apenas 10 a 13 por cento de itens plásticos são reciclados” (PARÓQUIA DE SÃO JOÃO, 2019, [n. p.]). Os anglicanos realizaram algumas atividades, dentre elas as seguintes: caminhada de oração/caminhada em meio a Covid-19; Dia Mundial dos Animais; Dia Mundial de Oração pela Criação; Serviço Ecumênico Juvenil (ACNS, 2020). No dia 31 de agosto de 2017, em Astana, no Cazaquistão, os líderes religiosos muçulmanos, cristãos e judeus participaram do Encontro inter-religioso “Juntos pelo cuidado da nossa casa comum”, organizado no âmbito da Expo 2017. Nessa ocasião, fizeram uma declaração comum acerca da defesa do ambiente. Durante o evento, o cardeal Peter Turkson, presidente do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, frisou que todos os cristãos devem agir em relação às alterações que o planeta Terra sofre com a utilização indevida dos seus recursos naturais. É dever de cada instituição religiosa trabalhar com uma educação que proteja e preserve as riquezas e seus recursos naturais, levando os fiéis a refletir a respeito dos valores comuns e da relação do homem com o meio ambiente. Cristãos do mundo inteiro estão se unindo para a preservação do meio ambiente. Devemos cuidar da nossa Casa comum, em toda sua plenitude, pois ela é um dom de Deus e precisa ser tratada com muito zelo, louvor e respeito.   Fonte: Blog Frei

ECOTEOLOGIA PARTE 2- UNIDADE 1 – INTER-RELAÇÕES E CONTRIBUIÇÕES ECOAMBIENTAIS DAS RELIGIÕES

2. RELIGIÕES DO ORIENTE E O MEIO-AMBIENTE – O MUNDO COMO ÍCONE DE DEUS Dando continuidade à nossa reflexão, queremos sintetizar o pensamento da Espiritualidade Oriental Antiga a respeito da natureza e, assim, ver o mundo como um sacramento a ser contemplado. Seria uma ousadia chamar os Padres da Igreja primitiva oriental (não estamos falando de sacerdotes, mas de pais do pensamento primitivo) de ecologistas, pois eles não fazem uma admiração estética da natureza, mas querem mostrar outra realidade mais profunda que inspira; o mundo tem que ser o lugar de constante recordação de Deus e essa afirmação é uma categoria mística essencial. São Basílio Magno dizia que “o criado é impregnado de Beleza”, um imenso ícone da Beleza de Deus, e a natureza é sinal dessa realidade, dessa percepção profunda. 2.1. A VISÃO OTIMISTA DO MUNDO A prece na tradição cristã antiga passa também pela contemplação da natureza, não apenas como um sentimento romântico; trata-se de fato de uma paixão. É saber ver. Diz São Basílio: “O Senhor não serve de olhos para contemplar a Beleza da sua Obra, mas nós precisamos de olhos para admirá-la. A beleza é a base da obra criadora”. Para os Padres Gregos a criação é Deus ornando o caos. O cosmo é encontro da ordem, ornamento e harmonia. Deus cria dando forma ao informe. O mundo é um resultado de alguém que olha segundo o modelo de ser, fazer, criar. O Senhor cria, cuida e conduz. Idolatria seria afastar-se de Deus, seria esquecer o mundo em sua multiplicidade, ordem e ritmo. O mundo deve ser a recordação constante desse contato com o divino. As coisas criadas são feitas para evocar isso. Elas são um intercâmbio: humano-natureza-comunhão com o Sagrado. O ser humano se torna pessoa enquanto é relação com a totalidade, e se tem relação com as coisas deve ter também uma íntima relação com Absoluto. Essa relação humano-mundo e humano-Deus é bastante nutrida pela natureza, porque o mundo representa um espetáculo, um convite do Senhor para colocar o Humano em comunhão com Ele ao ver sua obra. Aqui está o ponto central da teologia e espiritualidade antigas no que se refere ao criado: a sacralidade do mundo, a contemplação religiosa da criação. A natureza é um livro aberto para conhecer Deus e o seu plano de Amor. O ato criativo de Deus é contínuo, mas o ponto forte é que Deus cria encarnando-se. O Verbo se fez carne e impregnou a paisagem humana da Boa Nova. É preciso ver com alegria o Verbo em todas as coisas, pois Ele completa o plano salvífico global do Pai, por isso é preciso reconhecer e agradecer. O Verbo é o sentido eucarístico do mundo. Na Espiritualidade Patrística a visão otimista do mundo tem uma justificação soteriológica: a matéria toda é assumida pelo Verbo para operar de um modo completo a nossa salvação: “Não cessarei de levar minha veneração à Matéria através da qual se operou a minha salvação”, escreveu São João Damasceno (MAZZUCO FILHO, 1992, p. 375). 2.2. A VISÃO SACRAMENTAL DO MUNDO Os Padres se voltam à Bíblia para sustentar a sua visão otimista sacramental do mundo, e precisamente a Gn 1, 10: “E Deus viu que era bom”. Os exegetas da patrística interpretam esse trecho lembrando que Bom se refere à utilidade das coisas para o ser humano, enquanto o Belo exprime a alegria fecunda e emergente da própria criação. Os Padres citam frequentemente essa expressão bíblica para afirmar a bondade e a beleza do universo. A bondade e a beleza do mundo derivam da sabedoria de Deus, criador de tudo aquilo que é. Todo criado é revestido dessa realidade, afirma São Basílio: “assim como a água impregna de sua vitalidade uma planta, dando-lhe a possibilidade de revestir-se de cores” (apud MAZZUCO FILHO, 1992, p. 376). Os Padres tendem a ver o mundo como uma “teofania” de Deus, uma espécie de sacramento de sua Presença e da sua Beleza. Trata-se de uma verdadeira e própria “cosmologia sacramental”. Todo o mundo é sagrado, porque manifesta o início da encarnação dos Logos Divinos: O Mundo é uma coisa boa e tudo nele está colocado em ordem com sabedoria e arte. Tudo, portanto, é obra do Verbo vivente e substancial, porque o Verbo é Deus. É dotado de livre vontade porque é vivente, tem o poder de fazer tudo o que escolhe para realizar, e escolhe somente o que é bom e sábio e tudo o que traz o sinal da perfeição. (apud MAZZUCO FILHO, 1992, p. 376) O grande mestre do “Sacramentalismo cosmológico” é Orígenes. Para ele o mundo é um mistério, isto é, um sacramento. Mistério é Deus mesmo e tudo o que saiu dele através dos Logos. O mundo é feito de sinais significantes que precisam ser lidos para se chegar àquEle que significam. É preciso ter percepção do mistério. “Recordamos que tudo é pleno de mistério”, diz Orígenes, e escreve também: “Tudo o que se alcança, se alcança através do mistério”, pois somente pela graça do Espírito é que nós podemos fazer essa leitura (apud MAZZUCO FILHO, 1992, p. 376). Máximo, o confessor, diz: “O fogo inefável e prodigioso escondido na essência das coisas como esteve na sarça ardente, é o fogo do Amor Divino e o esplendor fulgurante da sua Beleza dentro de todas as coisas”. Esse fogo Divino é revelado somente pelo Fogo do Espírito, que leva o mundo a ser contemplado como o grande ícone da Beleza de Deus (apud MAZZUCO FILHO, 1992, p. 376).   Fonte: Blog Frei Vitório Matéria Completa: Acesse Aqui

ECOTEOLOGIA PARTE 1- UNIDADE 1- INTER-RELAÇÕES E CONTRIBUIÇÕES ECOAMBIENTAIS DAS RELIGIÕES

INTRODUÇÃO: A dimensão religiosa da existência nos leva ao centro da existência sem perder o seu eixo fundamental e necessário: na vida tudo está ligado, religado, interligado e numa conexão profunda com o Ser original e originante que faz a vida acontecer em sua plenitude. Tudo o que se move é movido por uma força maior. Todas as religiões procuram explicar o fenômeno das intervenções de Deus na história, e de um modo especial veem a criação como o espelho mais transparente que revela o amor e o bem. Deus e o seu grande amor por todo o criado é a manifestação mais evidente de que somos cuidados por um Ser Superior que se dá através de suas obras. No primeiro item desta unidade vamos mostrar, sob o olhar da transcendência, o que a espiritualidade, a religião e a teologia espiritual podem fundamentar quanto a relação que existe entre a experiência religiosa e a questão ambiental. Desde as religiões mais primitivas com a sua expressiva riqueza de ritos e cultos, a prioridade sempre foi destacar elementos da natureza para fazer a relação entre céu e terra. Em tudo uma manifestação do sagrado em momentos, elementos, tempo e espaço para o encontro com a divindade. No segundo item a cultura religiosa do oriente e o meio ambiente. A natureza não é vista apenas na perspectiva da matéria, mas sob o olhar contemplativo. Contemplar é fazer de cada lugar um templo, estar junto com o espaço sagrado; por isso o mundo é visto como um ícone de Deus. Há uma alegre visão de mundo porque a matéria é sagrada, e a natureza é um livro aberto para conhecer o modo como Deus ama. No terceiro item queremos mostrar que a criação em si comporta um conceito teológico: o sentido da vida vem do Criador que dá origem a vida e isto é uma questão que está na experiência de fé. O Criador quis ter uma morada física sobre a terra, faz parte de seu projeto ser encontrado no mundo de todas as coisas. No item quarto destacamos o compromisso das igrejas cristãs com a questão ambiental. Não basta apenas celebrar, é preciso cuidar. É preciso tratar, discutir e denunciar de um modo profético a degradação ambiental, mudar o estilo de vida, de produção e de consumo. A maior parte dos habitantes da terra declara-se pertencente a uma tradição religiosa, mas do que adianta isso se os que creem e as religiões não se unirem para o cuidado da natureza? 1. INTER-RELAÇÕES E CONTRIBUIÇÕES ECOAMBIENTAIS DAS RELIGIÕES Religião, evolução e espiritualidade estão presentes na criação e têm grande importância para elucidar o sentido da vida e a verdade de todos os seres. Desde as experiências mais primitivas e tribais do ser humano, o natural e o sobrenatural se encontram na beleza dos ritos. Do Oriente ao Ocidente, a questão ambiental não passa despercebida nos caminhos de crença e fé. O mundo bíblico enriquece o conceito teológico da criação como obra proveniente do Ser que nos faz ser. Das experiências religiosas mais ancestrais até o cristianismo, o cuidado pela natureza e a questão socioambiental apareceram como conscientização e práticas concretas. É do que vamos tratar nesta unidade.   Fonte: Blog Frei Vitório Matéria Completa: Acesse Aqui