Samuel Lieven, 28/08/2017
Um documento publicado pela Conferência dos Bispos da Irlanda lembra uma série de princípios para os padres que se tornaram pais durante o seu sacerdócio, em particular a necessidade de assumir as suas responsabilidades em relação à criança e à mãe.
Outros responsáveis pela Igreja, em particular o Papa Francisco, quando ele era ainda arcebispo de Buenos Aires, vão mais longe e consideram que estes padres devem deixar o seu ministério.
Outros responsáveis pela Igreja, em particular o Papa Francisco, quando ele era ainda arcebispo de Buenos Aires, vão mais longe e consideram que estes padres devem deixar o seu ministério.
Ser sacerdote e pai de uma ou mais crianças continua a ser um assunto tabu na Igreja Católica, onde os sacerdotes juraram o celibato desde a Idade Média – ao contrário dos seus homólogos orientais que podem se casar e ter filhos.
Um psicólogo irlandês de 34 anos, Vincent Doyle, tem movido céus e terra desde que descobriu, em 2011, o segredo que sua mãe guardara por tantos anos, remexendo nos papéis da casa da família. Um longo silêncio e uma lágrima foram suficientes para confirmar a sua intuição: o pai biológico de Vincent Doyle não é aquele junto ao qual ele cresceu, mas o padre John Doyle, um religioso espiritano que retornara aos Estados Unidos após anos de missão na África. O adolescente sempre se sentira muito próximo do sacerdote missionário que morreu em 1995, como o conta um relato tocante e muito minucioso do Boston Globe, publicado em meados de agosto.
Foto: FedericoC / ChiccoDodiFC / stock.adobe.com
“Obrigação moral de deixar o ministério”
Depois de conhecer o nome do seu pai biológico, Vincent descobre, ao abrir uma conta na rede social Facebook, que o seu caso não é tão raro como ele pensava. Sobretudo, ele pode avaliar a dimensão dos sofrimentos – ainda mais graves do que os seus – causados por uma tal situação entre numerosas crianças escondidas: mágoas existenciais, sofrimento material … Vincent Doyle funda em seguida a associação « coping international » “filhos de padres”, apoiada pela Conferência Episcopal Irlandesa.
Os padres diante do celibato
Na ausência de disposições claras no direito canônico da Igreja Católica, o posicionamento tomado pela Assembleia dos Bispos irlandeses, num documento aprovado no seu encontro de primavera em maio passado e divulgado alguns dias depois da investigação do Boston Globe, e intitulado “Princípios de responsabilidade para os padres que geraram filhos durante o seu ministério”, tem o mérito de ser ao mesmo tempo firme e claro.
Em particular, ele pode agora servir de base para desenvolvimentos ulteriores na Igreja. Nesse documento os bispos lembram não somente que “as necessidades dos filhos são prioritárias”, mas também que “um padre, como qualquer pai, deve assumir as suas responsabilidades – pessoais, morais, legais e econômicas”.
O cardeal Sean O’Malley, arcebispo de Boston, vai ainda mais longe. Reagindo à investigação do Boston Globe, que se tornou possível graças aos contatos e testemunhos fornecidos pela associação Coping Internacional, declara:
“Se um padre se torna pai de uma criança, ele tem a obrigação moral de deixar o ministério e de prover aos cuidados e às necessidades da mãe e do filho”.
Quando o futuro papa tomava posição sobre o assunto
Embora o Vaticano permaneça em silêncio sobre o assunto, apesar de várias tentativas de Vincent Doyle para se encontrar com o papa Francisco, o antigo arcebispo de Buenos Aires já se tinha posicionado sobre o assunto num livro-entrevista, com o rabino Abraham Skorka, ‘Sobre o Céu e a Terra’.
“Se um padre vem falar comigo e me diz que engravidou uma mulher, eu o faço compreender pouco a pouco que o direito natural prevalece sobre os seus direitos como padre” – escreve ele. Consequentemente, ele deve deixar o ministério e tomar a seu cargo o filho, mesmo que ele decida não desposar a mulher. Porque se acriança tem o direito de ter uma mãe, ela também tem o direito de ter um pai com um rosto. Eu me comprometo a regularizar todos os seus documentos em Roma, mas ele deve deixar tudo. Agora, se um padre me diz que ele se deixou arrastar pela paixão, que cometeu um erro, eu ajudo-o a corrigir-se. (Quer dizer) fazer penitência, respeitar o celibato. Pois a vida dupla não faz bem“.
A investigação do Boston Globe especifica que Vincent Doyle não quer questionar o celibato dos padres como tal. E isso, embora muitos filhos de padres que entraram em contato com ele considerem que se trata de uma exigência desumana, causa de todos os seus sofrimentos.
Mas Vincent Doyle não faz disso a sua principal luta. “Se o papa anunciasse a abolição do celibato, eu diria “genial” – declarou ele ao jornal americano. – Mas isso não resolveria os problemas dos filhos dos padres hoje e no curto prazo“.
Samuel Lieven
Respostas de 2
E qual o Conselho para os Padres homossexuais. Estes estão tranquilos não se engravidam né. Só nós héteros que quando nos apaixonamos que ficamos expostos. Os demais ficam com o “amigo” um mês na casa paroquial fazendo uma visita e está tudo bem.
O Celibato é um voto para a vivência do sacerdócio na sua plenitude. Concordo com o comentário anterior: porque só os padres heteros devem fazer penitência e ver a beleza do celibato se envolver com uma mulher e o que tem caso homossexual não? O que está por trás mesmo dessa proteção do homossexualismo com celibato?