
Tradução: Orlando Almeida
Ajudemos Sudão do Sul e não apenas com palavras. É forte o apelo do Papa em favor de um país arraigado no seu coração, pelo qual desde há muito mostra preocupação e sofrimento. Uma terra devastada pela guerra, pela violência e pela carestia:
“Despertam particular preocupação as dolorosas notícias que chegam do martirizado Sudão do Sul, onde a um conflito fratricida se junta uma grave crise alimentar que condena à morte por inanição milhões de pessoas, entre as quais muitas crianças. Neste momento, é mais do que nunca necessário o compromisso de todos de não ficar só em declarações, mas de tornar concretas as ajudas alimentares e permitir que possam chegar às populações que sofrem. Que o Senhor assista esses irmãos e aqueles que trabalham para ajudá-los”.
Independente desde 2011, o Sudão do Sul em 2013 mergulhou de novo numa guerra civil que, apesar dos acordos de paz, se reacendeu em julho passado entre os grupos que apoiam o presidente Salva Kiir e os ligados ao se ex-vice, Riek Machar, o primeiro da etnia Dinka e o segundo da Nuer. E o país entrou novamente numa espiral de “assassinatos deliberados de civis, estupros e saques”, como foi denunciado por organizações como a Anistia Internacional, mas também por quem, como o padre Daniele Moschetti, conhece bem o Sudão do Sul.
O missionário comboniano viveu lá sete anos, seis dos quais como provincial, tendo retornado à Itália em janeiro:
O Entrevistado, Pe. Daniel Moschetti, com Francisco
Foto in: http://www.comboni.org/admin/img/uploads/8270.jpg
“É de há muito, de há muito, que Francisco tem o coração no Sudão do Sul, quer ir ao Sudão do Sul, disse-o a mim pessoalmente e disse-o a muitos outros de nós que trabalham no país. E nisso nós acreditamos profundamente, pois ele reza muito pelo Sudão do Sul em muitos momentos, não só neste último. Claro que ele gostaria de ver os líderes do país, sobretudo os militares e políticos, deixar de lado as diferenças étnicas que realmente estão fora de controle e destroem o país inteiro. Já não é mais uma guerra entre Dinkas e Nueres, as duas maiores etnias, mas é agora também uma guerra com as outras etnias porque estão cansadas deste domínio Dinka que continua sem limites porque detém o poder militar, político, econômico e além disso recursos.”
– Quando diz: “É mais do que nunca necessário o compromisso de todos” e, sobretudo, “não ficar só em declarações”, a quem se dirige Francisco?
– Certamente aos povos, ou pelo menos aos Estados que têm grandes interesses no Sudão do Sul, e portanto à China, à Índia, a muitos países asiáticos, mas, sobretudo aos europeus e aos americanos, aos que de algum modo estão por trás desses conflitos devido aos grandes interesses energéticos, de minerais, de petróleo, e muito mais, porque não estão dando apoio a esta emergência-fome que estamos realmente vivendo há bastante tempo, durante os três anos e meio que já dura esta guerra. Este último apelo é partilhado também pelo Governo do Sudão do Sul, e isso é muito importante, porque até agora o governo sempre disse que não era verdade, questionava muitos dados fornecidos pelas Nações Unidas, portanto este detalhe faz-nos entender ainda mais como a situação é grave.
Especialmente no Estado da Unidade, o mais atingido pela guerra, desde dezembro de 2013. Portanto, se se diz isso e o governo também o diz, significa que essas pessoas já estão morrendo de fome e é exatamente por esta razão que o Papa Francisco nos pede para sermos muito mais solícitos, porque há uma grande urgência, uma fortíssima urgência, e é necessária uma grande solidariedade que por enquanto ainda não foi mostrada pelos países.
O mapa do Sudão do Sul – www.mapsofworld.com
– A Igreja Católica, em todo este drama, nesta tragédia, nesta violência, como consegue mover-se?
– Não é fácil, porque o governo e até mesmo os rebeldes neste momento não estão dando muita atenção à Igreja Católica ou às Igrejas e esta é uma das maiores dificuldades. As Igrejas em geral, na guerra contra o Sudão, foram fundamentais para chegar, após 40 anos de guerra, a uma independência e ao reconhecimento como Estado.
No entanto, nesta nova fase, da nova guerra – desde 2013 – têm certamente tentado afastar as Igrejas, a Igreja, os líderes religiosos
porque, logicamente, relembram os valores básicos da vida, do respeito à dignidade do homem e à própria vida,
porque se fala de atrocidades absurdas, com estupros de milhares de mulheres, de meninos castrados, queimados vivos, fala-se de coisas realmente horríveis, crimes de guerra que são absurdos.
A comunidade internacional está percebendo que é fundamental dialogar com as Igrejas para restabelecer algum tipo de ordem, e também de paz, de reconciliação, mesmo que isso deva passar de algum modo pelos líderes políticos e militares. Há um longo, longo caminho. Esta guerra fez-nos recuar décadas de trabalho, seja as Igrejas seja a sociedade civil…
– O senhor estava falando de horrendos crimes de guerra: tudo isso num clima de total impunidade e, sobretudo, crimes cometidos por todas as partes em conflito…
– Certamente. Seja de um lado seja do outro, ninguém pode isentar-se destas atrocidades, destas violências loucas, atrozes. E exatamente por este motivo é preciso restaurar a justiça, dizer a verdade, porque se não se chegar a julgar estas situações que existiram no passado e continuam ainda hoje, é difícil, depois recomeçar um caminho comum, como etnias, juntas. São 64 grupos étnicos, não são poucos…
Francesca Sabatinelli
http://www.news.va/it/news/francesco-si-aiuti-il-sud-sudan-devastato-da-guerr