Berlim reage a críticas do Presidente eleito dos EUA e avisa que penalizar importações de automóveis jogará contra a economia americana.
Foto: Angela Merkel foi lacónica na resposta às críticas e ameaças de Donald Trump LUSA/CUGNOT MATHIEU
“O meu conselho é o de que seria melhor
- não estarmos a recriminar-nos uns aos outros,
- e empenharmo-nos em estabelecer a paz no Médio Oriente
- e fazer tudo o que esteja ao nosso alcance para garantir que as pessoas possam ali encontrar um lar outra vez”,
afirmou Sigmar Gabriel, líder do SPD alemão, que governa em coligação com os conservadores da CDU de Merkel.
O Presidente francês, François Hollande, também reagiu às declarações de Trump, garantindo que a Europa não necessita de conselhos externos: “A Europa está pronta para procurar a cooperação transatlântica, mas vai ser baseada nos seus interesses e valores”, cita a Reuters. “[A Europa] Não precisa de conselhos do exterior para lhe dizer o que fazer”, afirmou ainda Hollande à margem de uma cerimónia onde condecorou o embaixadora norte-americana em França, Jane Hartley.
O líder gaulês respondeu também às críticas do Presidente eleito dos EUA à NATO, explicando que “esta aliança foi concebida para reforçar a capacidade dos seus membros de se protegerem colectivamente”, realçando que “só será obsoleta quando as ameaças se tornarem obsoletas”.
“Construam carros melhores”
No domingo, numa entrevista a dois jornais, o The Times (Londres) e o Bild (Berlim), o republicano que na próxima sexta-feira toma posse como o 45.º Presidente dos EUA classificou como “um erro catastrófico” a decisão de, no Verão de 2015, a Alemanha ter aberto as suas portas a refugiados do Iraque e da Síria.
Além disso, acenou com um agravamento fiscal para carros alemães, como medida de dissuasão de importação de veículos. “Se descermos a Quinta Avenida [em Manhattan, Nova Iorque] toda a gente tem um Mercedes-Benz em frente a casa, certo? Quantos Chevrolet é que vê na Alemanha? Não haverá muitos, se calhar nenhum…”, disse Trump, frisando que pretende corrigir este desequilíbrio comercial entre EUA e Alemanha.
Mais uma vez, Sigmar Gabriel fez a defesa alemã, argumentando que se os EUA querem vender mais carros na Alemanha, as medidas de Trump têm de ir noutro sentido: “Construam melhores carros.” E no caso da BMW, alias, a maior unidade produtiva até está localizada nos EUA, realçou.
Além disso, um agravamento fiscal prejudicaria os próprios fabricantes norte-americanos, apontou o ministro alemão. “A indústria americana terá um amanhecer difícil se de repente tiver de pagar uma tarifa dessas por todos os componentes que usa mas que não são feitos nos EUA”, anotou.
“Creio que [uma medida dessas] enfraquecerá a indústria americana e, acima de tudo, encarece os seus custos”, prosseguiu, concluindo que “é preferível esperar para ver o que pensa o Congresso sobre essa matéria, visto que o Congresso está cheio de gente que quer o contrário de Trump”.
Apesar de ainda não estar em funções, Trump já abordou diversas vezes a questão da indústria automóvel, regra geral em tom ameaçador para grupos ou marcas que pretendam alimentar o mercado interno dos EUA a partir de outro país. No início de Janeiro, a Ford anunciou que iria cancelar uma fábrica de 1235 milhões de euros no México, em troca de uma nova no estado do Michigan.
A postura proteccionista de Trump em relação à economia americana é algo que desagrada também ao Fundo Monetário Internacional que, nesta segunda-feira, reviu em alta a sua previsão de crescimento para a zona euro e os Estados Unidos, mas diz que a economia mundial corre o risco de ser prejudicada pelo ressurgimento de políticas proteccionistas e por um recuo mais rápido do que o previsto das políticas expansionistas dos bancos centrais. A principal incerteza chama-se Donald Trump. O FMI assume que não sabe neste momento o que é que o futuro Presidente dos Estados Unidos irá ao certo fazer.
Público – Lisboa