“Bauman só podia estar de acordo com um papa como Francisco” – Entrevista com com Gianni Vattimo

Stefano Caselli –11 Janeiro 2017

Fotos e imagens: Da internet

“Para Zygmunt Bauman, a ética coincide com o colocar-se à disposição do outro, também – e sobretudo – fora das estruturas sociais ‘líquidas’. Uma visão bastante otimista da pessoa como ‘eu moral’ a serviço do próximo espoliado de todas as qualificações sociais.

Na prática a sociedade líquida deveria ser aquela onde contam menos as pessoas e mais o ‘eu’, menos os papéis, as funções, mais o indivíduo”, reflete Gianni Vattimo (foto),  filósofo italiano, em entrevista de Stefano Caselli, publicada por il Fatto Quotidiano, 10-01-2017

 Eis a entrevista.

Professor Vattimo, o que Bauman representou para a nossa época?

Sem dúvida, foi um dos grandes intelectuais europeus capaz de fazer grandes sínteses. Não há muitos. Sinto-o muito próximo porque em 1972, quando estive nos EUA para ministrar os primeiros curso de Hermenêutica – que ninguém sabia do que se tratava – os únicos textos na New York Public Library que tratavam de hermenêutica e interpretação eram os de Zygmunt Bauman, um verdadeiro sociólogo-filósofo.

A sua síntese, a sociedade líquida…

Sim, ainda que, para que sejamos verdadeiros, trata-se também de um conceito líquido, um tanto quanto difícil de acolher. Imagino que a sua tentativa era explicar a pós-modernidade na ausência de uma sociedade com referências estáveis fixas,

  • as profissões,
  • as competências,
  • as especializações.

Mas uma coisa sempre me inquietou…

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O quê?

Nunca entendi se ele para apreciava esta pós-modernidade ou não, parece que nunca a avaliou.

A ausência

  • de referências estáveis,
  • de figuras sociais definidas,
  • da divisão em classes
  • e da rigidez das relações familiares típicas da modernidade – que, recordemos, era considerada por ele como a causa das ideologias totalitárias do século XX –

simplesmente é descrita como um dado de fato.

A liquidez não é um alarme, é uma leitura. Um outro elemento do seu pensamento, tem a ver com o conceito de ética.

Para Bauman, a ética coincide com o colocar-se à disposição do outro, também – e sobretudo – fora das estruturas sociais ‘líquidas’. Uma visão bastante otimista da pessoa como ‘eu moral’ a serviço do próximo espoliado de todas as qualificações sociais.

Na prática a sociedade líquida deveria ser aquela onde contam

  • menos as pessoas e mais o ‘eu’,
  • menos os papéis, as funções, mais o indivíduo.

Positivo? Talvez, mas eu nunca o entendi até o fundo.

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para que sejamos verdadeiros, trata-se também de um conceito líquido, um tanto quanto difícil de acolher. Imagino que a sua tentativa era explicar a pós-modernidade na ausência de uma sociedade com referências estáveis fixas…

Os conceitos de liquidez e pós-modernidade podem ser incluídos no debate sobre a ‘pós-verdade’ tão em moda neste início de 2017?

Pode ser que a pós-verdade seja um conceito líquido. Eu, contudo, chamo a atenção para o problema da interpretação:

  • não me escandaliza que a verdade não seja válida para sempre,
  • basta que seja fundada na coincidência de interpretações.

A verdade é uma interpretação

  • compartilhada,
  • não indivisa,
  • mas é impossível que seja definitiva e compartilhada por todos.

Sempre houve a autoridade, menos a verdade. A verdade absoluta é relacionada com o poder.

Quanto ouço dizer

  • “minha senhora, não existe mais religião”

respondo

  • “Não, minha senhora, não há mais poder, não podemos mais impor”.

Nos últimos tempos ele estava de acordo com o papa Francisco. No entanto, Bauman era de formação marxista. Também este é um sinal de pós-modernidade?
Só podia estar de acordo com um papa como Francisco. Digamos a verdade, Francisco é hoje o guia de uma igreja onde – ao menos nas intenções do seu pontífice –

  • a verdade não é mais dogmática,
  • mas é a participação caritativa de muitos.

A caridade, antes de tudo. Não é por acaso que Francisco é a única voz radicalmente a favor da acolhida dos migrantes. Um tema que para Bauman era muito importante.

 

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Stefano Caselli

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/563850-bauman-so-podia-estar-de-acordo-com-um-papa-como-francisco-entrevista-com-com-gianni-vattimo

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