Francisco responde de próprio punho a um carta de um Padre casado argentino
Daniel Fernandez – 10/12/2016
Tradução: João Tavares
Recebemos de Willy Schefer, padre casado de Buenos Aires, o Relatório de uma significativa e promissora Reunião dos padres casados da Argentina em novembro de 2016.
Assunto: resposta pessoal do papa Francisco a uma carta de um padre casado argentino sobre a situação dos Padres casados hoje na Igreja. No mesmo dia da reunião na Argentina, Francisco visitava sete Padres casados com suas famílias, num apartamento nos arredores de Roma. (J. Tavares)
Eis o Relatório
Nos dias 11 e 12 de novembro do ano passado foi realizada em Pontevedra, Buenos Aires, um encontro de sacerdotes que, por várias razões, deixaram de exercer o ministério. Fomos acompanhados por dois irmãos leigos que nos enriqueceram com sua hospitalidade, o seu interesse em nosso tema, sua sabedoria e suas histórias de vida.
A iniciativa partiu de uma carta enviada ao Papa Francisco por um padre nessa situação, na qual ele contava ao Papa Francisco sobre esta realidade eclesial e pedia simplesmente que a igreja se ocupasse em pastorear essas ovelhas, que antes também tinha sido pastores e agora são considerados quase com desgarradas.
Francisco, fiel ao seu estilo, respondeu de próprio punho e letra e tratando o seu interlocutor – e a todos os que estão na mesma situação – de “querido irmão” e assumindo como real o que estava sendo solicitado. Não ser uma questão difícil deve ser arquivado, disse ele.
Esta resposta do Papa mobilizou fortemente o autor da carta e surgiram dois resultados concretos:
- um livro: “Querido irmão”, onde, com outros dez sacerdotes, agradecem ao Papa sua resposta fraterna e lhe contam resumidamente suas histórias;
- e o encontro / retiro que estamos comentando.
Providencialmente e como expressão concreta da sua resposta no mesmo dia que acontecia a reunião em Pontevedra, Francisco visitou Roma sete sacerdotes e suas respectivas famílias …
Francisco visita sete famílias de Padres casados, em Roma – Novembro 2016 – Foto Osservatore Romano
O pedido está começando a se materializar: o pastor sai e vai procurar a sua ovelha, o pai vai ao encontro de seus filhos (irmãos).
O que vivemos naquele fim de semana foi muito intenso para todos os que participamos.
- Cada história de vida tocava o coração dos demais e nos fazia ficar com a emoção à flor da pele.
- Cada vida, cada história tem sua riqueza e sua diversidade.
- Muitos deixaram o ministério por, no rito romano da Igreja Católica, o ministério não ser compatível com o casamento;
- outros por outros tipos de crise, como o forte estresse por excesso de trabalho, visões diferentes das de de seus superiores, ou outras questões pessoais.
- Todos, porém, concordamos que deixamos o ministério, mas não a vocação, ou, dito de outra forma, que deixamos o ministério, mas o ministério não nos deixou.
Cada um continuou de alguma forma o seu sacerdócio,
- seja vivendo plenamente a sua vida familiar (às vezes trespassada por fortes dores que fazem experimentar a cruz, onde Cristo foi propriamente sacerdote),
- seja reintegrando-se em alguma comunidade executar determinadas tarefas apostólicas, conforme lhes era solicitado (grupos bíblicos, missões, catequese e até mesmo algumas celebrações que um leigo poderia realizar),
- seja trabalhando pelos pobres ou pelos direitos humanos, seja através de artigos em revistas ou subsídios litúrgicos, seja por meio do ensino, da psicologia, da política ou no campo da saúde …
É verdade que nem todos desejamos a mesma coisa quanto a exercer novamente o ministério. Alguns poderiam fazê-lo de bom grado se a Igreja permitisse, outros iriam pensar, alguns pediriam permissão para casos específicos, outros, talvez menos, já não o fariam.
Há aqueles que anseiam por consagrar o Corpo e Sangue de Cristo e quase chegam a estender a mão na hora da missa, outros gostariam de confessar, emprestar seus ouvidos e seu coração às pessoas e dar-lhes o perdão de Deus. Cada um, de acordo com o que ela experimentou de maneira especial no seu exercício do ministério.
Em algumas dioceses ha, faz tempo, reuniões destes sacerdotes. Em algumas, o Bispo os acompanha de perto e lembra-lhes que eles não são “ex-sacerdotes”, mas sim sacerdotes. Sacerdotes para sempre, porque teologicamente sabemos que o sacramento imprime caráter e vivencialmente assim o experimentamos.
Embora reconhecendo que não tenhamos podido cumprir uma promessa que fizemos, e sem querer parecer arrogantes, algumas pessoas disseram que,
- em vez de acreditar que cometemos uma falta grave (como é muitas vezes nos quiseram fazer sentir),
- provavelmente devemos nos sentir escolhidos para mostrar com humildade é possível viver e exercer o ministério também sendo casados.
Talvez sejamos um sinal profético.
E, de fato, nós concordamos e aderimos a essa reflexão.
Por isso,
- não basta queremos simplesmente pedir alguma coisa para a igreja.
- Pelo contrário, estamos dispostos a perguntar a Deus o que Ele nos pede, a nós em primeiro lugar, e àqueles que na Igreja que podem tomar decisões.
O que Jesus quer de nós? O que quer que a igreja faça com a nossa realidade?
Que o Senhor completar e aperfeiçoar a obra que começou em nós (cf. Flp. 1,6 e ritual da Ordenação).
Por Daniel Fernandez,
Bacharel em Teologia
danieladrianfernandez@yahoo.com