Leonardo Boff – 07/11/2014 – É espantoso ler nos jornais e mensagens nas redes sociais e mesmo em inteiros youtubes a quantidade de pessoas, geralmente das classes altas ou os ditos “famosos” que lhes custa digerir a vitória eleitoral da reeleita Dilma Rousseff do PT.
Externam ódio e raiva, usando palavras tiradas da escatologia (não da teológica que trata dos fins últimos do ser humano e do universo) e da baixa pornografia para insultar o povo brasileiro, especialmente, os nordestinos.
Estas pessoas não vivem no Brasil, mas, em geral, no Leblon e em Ipanema ou nos Jardins da cidade de São Paulo onde se albergam: em sua maioria, os pertencentes às classes opulentas (aquelas 5 mil famílias que, segundo M.Porchmann, detém 43% do PIB nacional).
Muitas delas não se sentem povo brasileiro. Externam até vergonha. Mas estão aqui porque neste país é mais fácil enricar, embora o desfrute mesmo é em feito em Miami, Nova York, Paris ou Londres, pois muitos deles têm lá casas ou apartamentos.
Alguns mais exacerbados, mas com parquíssima audiência, sugerem até separar o Brasil em dois: o sudeste rico de um lado e o resto (para eles, o resto mesmo) do outro, especialmente o Nordeste.
Acresce a isso o Parlamento brasileiro, a maioria eleita com muito dinheiro, que mal representa o povo. Finge que escutou o clamor dos ruas em junho de 2013 demandando reformas, especialmente, na política, no sistema de educação e de saúde e uma melhor mobilidade urbana e não em últmo lugar a segurança e a transparência na coisa pública.
Mas já esqueceu tudo. Rejeitou o projeto do governo, no rescaldo da reeleição, que visava ordenar e dar mais espaço à participação dos movimentos sociais na condução da política nacional, respeitadas as instituições consagradas pela Constituição.
Tal fato nos remete ao que Darcy Ribeiro diz em seu esplêndido livro que deveria ser lido em todas as escolas, “O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil”(1995). Aí diz o grande antropólogo, indigenista, político e educador:
”O ruim no Brasil e efetivo fator do atraso, é o modo de ordenação da sociedade, estruturada contra os interesses da população, desde sempre sangrada para servir a desígnios alheios e opostos aos seus…
O que houve e há é uma minoria dominante, espantosamente eficaz na formulação e manutenção de seu próprio projeto de prosperidade, sempre pronta a esmagar qualquer ameaça de reforma da ordem social vigente”(p.446).
Esta afirmação nos concede entender porque a presidenta Dilma quer uma reforma política que não venha de cima, do Congresso, porque este sempre se oporá ao que possa contradizer os seus indecentes privilégios. Deve partir de baixo, ouvindo os reclamos do povo brasileiro.
Quem aprendeu em 500 anos a sobreviver na pobreza senão na miséria, colheu muita experiência e sabedoria a ser testemunhada e repercutida na nova ordenação político-social do Brasil.
Ouvi de um sacerdote que viveu sempre na favela:”há um evangelho escondido no coração do povo humilde e importa que o leiamos e escutemos”.
Vale a mesma coisa para as várias reformas desejadas pela maioria da população: auscultar o que se aninha no coração do povo e dos invisíveis.Podemos tolerar a arrogância e a resistência dos poderosos e dos parlamentares, o que não podemos é defraudar a esperança de todo um povo.
Ele não merece isso depois de tanto suor, sacrifícios e lágrimas. Ele precisa voltar às ruas e renovar com mais contundência e ordenadamente o que irrompeu em junho do ano passado.
O feijão só cozinha bem em panela de pressão. Da mesma forma, o parlamento abandona sua inércia quando é posto sob pressão, como se constatou no ano passado.
Voltemos a Darcy Ribeiro, um dos que melhor estudou e comprendeu a singularidade do povo brasileiro. Uma coisa são os povos transplantados como nos USA, no Canadá e na Austrália. Eles reproduziram os moldes dos países europeus de onde vieram.
No Brasil foi diferente. Ocorreu uma das maiores miscegenizações da história conhecida da humanidade. Vieram de 60 países diferntes. Misturaram-se entre si índios, afro-descentes, europeus, árabes e orientais.
Criaram um novo tipo de gente. Diz Darcy: ”o nosso desafio é de reinventar o humano, criando um novo gênero de gentes, diferentes de quantas haja”(p.447). Diz mais ”olhando todas estas gentes e ouvindo-as é fácil perceber que são, de fato, uma nova romanidade, uma romanidade tardia mas melhor, porque lavada em sangue índio e sangue negro”(p.447).
Não me furto em citar estas palavras proféticas com as quais fecha seu livro “O povo brasileiro”:
“O Brasil é já a maior das nações neolatinas…Estamos nos construindo na luta para florescer amanhã como uma nova civilização, mestiça, tropical, orgulhosa de si mesma. Mais alegre, porque mais sofrida. Melhor porque incorpora em si mesma mais humanidades. Mais generosa, porque aberta à convivênca com todas as raças e todas as culturas e porque assentada na mais bela e luminosa província da Terra”(p.449).
Para os que querem sair do Brasil: fiquem nessa esplêndida Terra e ajudem-nos a contuir esse sonho bom.
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Uma resposta
A alternância da presidência do FHC p/ o Lula em 2002 foi de fato um grande acontecimento, com muito respeito de ambos os lados. Esperava-se uma mudança quase “evangélica”, que as classes sociais se reunissem agora em torno de um mesmo objetivo de levar o país a uma grandeza do 1º mundo. E claro: p/ conseguir isto precisa-se amar muito seu povo. No entanto o povo ganhou apenas esmolas p/ ficar na pobreza e gerar votos. Em vez de os jovens receberem maciça instrução p/ erguer um país e dar empregos honestos formou-se e criou -se a indústria da criminalidade. Não precisa-se ser um sociólogo ou intelectual p/ constatar que o Lula usou o poder p/ “cultuar-se” a si mesmo e que a Dilma quer implantar no Brasil com toda a força o socialismo estúpido da Venezuela, da Cuba etc. p/ vingar-se do passado dela. Brasil estagnou, piorou. Precisamos de um presidente ou de uma presidentA que demonstrem de fato que amem seu povo em vez de usar o povo p/ fins pessoais. – Um empresário de Crato-CE me disse que não consegue empregados, porque o pessoal prefere receber bolsa de família. Se a Dilma não se assessorar de gente honesta e competente, o governo dela vai ser um fracasso.-Vim da Alemanha c/ 19 anos, trabalhei 2 anos em uma favela de Duque de Caxias e atuei durante 30 anos como consultar de exportação em muitas empresas brasileiras, gerando divisas p/ o Brasil. A Alemanha exporta mais de 30% de seus produtos manufaturados, Brasil não chega nem a 1%. Um país se torna grande com trabalho honesto e não com blabla como querem alguns sociólogos ou com sacanagens como se viu nos últimos 12 anos.