UMA HISTÓRIA DO NATAL

José era carpinteiro numa pequena aldeia do norte da Palestina. A aldeia chamava-se Nazaré. José era um homem pobre, mas muito respeitado, porque, entre o povo judeu, honrava-se quem exercia uma profissão e ganhava o pão com o seu trabalho.

No país, quem governava não eram os judeus, como seria normal, mas um povo estrangeiro, os romanos. E, certo dia, chegaram a Nazaré uns soldados a cavalo que iam gritando pelas ruas:

“Gente de Nazaré, o nosso imperador César Augusto ordena que cada um vá à cidade da sua origem, para lá se inscrever na lista dos contribuintes. Quem não for, será levado à força e punido com as penas da lei”.

Quando ouviu isso, José largou a enxó e assomou à porta da oficina resmungando:

“Quando é que estes romanos deixarão de nos explorar? Tratam-nos como escravos. Mas eles, lá em Roma, vivem à grande, tudo à custa da nossa pobreza. Contudo, um dia, há de chegar o Messias e ele nos libertará”.

Arrumou as ferramentas, fechou a porta da oficina e foi, apressado, levar a má notícia a Maria, sua esposa. Maria estava grávida ia para mais de oito meses.

“Mas como havemos de partir – disse Maria a José – no estado em que estou? Até Belém, nossa cidade de origem, são cinco dias de viagem!”

“Não temos outro remédio, Maria – objetou José. – Bem sabes como são os romanos. As ordens do imperador é que valem, as pessoas não valem nada. Vamos aparelhar o nosso jumento e ele te levará”.

Dois dias depois, estavam a caminho. Iam em caravana com outras pessoas de Nazaré. Era mais seguro. Os caminhos eram perigosos e estavam infestados de ladrões. Os homens caminhavam à frente, as mulheres e crianças, atrás. Dormiam em abrigos ou caravançarais, uma espécie de albergues para pessoas e animais. Maria, embora transportada ao lombo de um jumento, estava exausta logo no primeiro dia. José animava-a como podia.

Na tarde do quinto dia avistaram Belém, uma pequena povoação, assente numa colina. Gente por todos os cantos: os que vieram inscrever-se e grande número de comerciantes.

Maria começou a sentir as dores de parto e José apressou-se a buscar um lugar sossegado onde ela pudesse dar à luz. Não o encontrou. O caravançarai, com a sua grande confusão de pessoas, camelos e jumentos, não era lugar apropriado. Foi à hospedaria: estava tudo cheio. Bateu à porta de algumas casas, mas, inventando mil desculpas, ninguém os quis receber. Perguntou onde podia encontrar uma parteira. Indicaram-lhe um barraco humilde, já fora da povoação. No caminho, José, vendo que Maria não podia mais, acomodou-a carinhosamente numa pequena caverna destinada à guarda de animais. E foi depressa chamar a parteira. Quando voltou, Maria tinha dado à luz e, sozinha, tentava acomodar o recém-nascido num berço improvisado, uma manjedoura.

“Maria, deixe comigo” – disse Ana, a velha parteira. “E você, José, vá depressa buscar água à cisterna ali em baixo”. E, muito ágil, começou a fazer o que cumpria fazer numa situação daquelas, com o recém-nascido e com a mãe.

Na cisterna, aonde correra a buscar água, José encontrou um pastor e contou-lhe, ofegante e feliz, a notícia do parto.

O pastor não quis ouvir mais nada. Subiu veloz em direção à caverna e, quando viu o menino deitado numa manjedoura e a mãe, ainda uma adolescente, não perdeu tempo. Tocado de estranha alegria, saiu ligeiro pelo descampado, onde outros pastores guardavam os rebanhos, e dizia a todos: “Trago-vos uma grande notícia: nasceu o Messias!” E contava-lhes o sonho que tivera na noite passada: “Dormia eu junto do meu rebanho, quando vi em sonhos um anjo, todo rodeado de luz. Tive medo, mas ele me disse: ‘Não temas. Anuncio-te uma grande alegria que será para todos. Hoje, em Belém, nascerá um Salvador que é o Messias. Isto te servirá de sinal: encontrarás um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura’. De repente juntou-se a ele uma multidão imensa de anjos cantando: ‘Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade’. Depois desapareceram. Tenho a certeza. O menino que eu vi há pouco deitado na manjedoura, é o Messias.”

“Sendo assim, – disseram os pastores – vamos a Belém, ver o que aconteceu”.

Foram, viram o menino e voltaram louvando e glorificando a Deus.

Entretanto, a velha Ana, a parteira, disse a Maria e José:

“Seria um pecado deixá-los aqui com esta criança. A minha casa é pobre, mas lá ficarão melhor. Venham! Em casa de pobre há sempre um lugar sobrando!”

E o evangelista Mateus diz que, quando os Reis Magos chegaram do Oriente, guiados por uma estrela, para adorar o rei dos judeus, o Messias, a estrela parou sobre o lugar onde estava o menino. E os Magos, “entrando em casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, adoraram-no e, abrindo os cofres, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra”.

E aquela casa era o barraco da pobre Ana!

                                                                                     Luís Guerreiro

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