O escritor Pankaj Mishra tornou-se um dos pensadores mais lúcidos na compreensão da dinâmica de poder entre o Norte e o Sul globais. Nós o entrevistamos por ocasião da publicação do seu último ensaio, El mundo después de Gaza. Una breve historia (Galaxia Gutenberg, 2025).
A entrevista é de Patrícia Simón, publicada por La Marea, 07-04-2025. A tradução é do Cepat.
Ao longo da sua carreira de mais de três décadas, o escritor e jornalista Panjak Mishra (Jhansi, Índia, 1969) tornou-se um dos pensadores mais lúcidos do nosso tempo. Ao se tornar um renomado cronista de conflitos e focos de terrorismo islâmico na primeira década deste século, ganhou alguns dos prêmios mais importantes por seus romances e tornou-se um dos ensaístas mais influentes sobre as questões definidoras da nossa era: o declínio dos impérios, a ascensão das ideologias do ódio e o neoliberalismo como uma ideologia de submissão colonialista.
Seu artigo “O Ocidente não sabe de nada”, no qual analisa por que a credibilidade da maioria dos meios de comunicação estadunidenses e europeus chegou ao fundo do poço com sua cobertura do genocídio de Gaza, tornou-se uma leitura obrigatória para qualquer pessoa interessada em relações internacionais em geral e para estudantes de Jornalismo em particular.
Agora publica El mundo después de Gaza. Una breve historia (O mundo depois de Gaza. Uma breve história), um ensaio fundamental para entender como o atual genocídio que Israel está perpetrando contra Gaza foi forjado e as consequências de longo prazo desse exercício de ostentação de impunidade e crueldade pelo Norte global. La Marea o entrevistou na sede de sua editora em Barcelona, onde durante uma hora explicou, de maneira apaixonada, como a cumplicidade dos Estados Unidos e da Europa com a ocupação israelense e o regime de apartheid contribuiu para o ressurgimento dos fascismos em seus territórios, a relação entre o sionismo e a hipermasculinidade, o plano de rearmamento da Europa e onde encontrar esperança, entre outras questões cruciais da atualidade.
Eis a entrevista.
Um dos aspectos mais difíceis de reportar como jornalistas não é a violência mais visível da ocupação, mas o intrincado e perverso sistema de controle e repressão que o Estado sionista projetou para transformar todos os aspectos da vida dos palestinos em um inferno. Você conta em seu livro que foi em uma viagem à Palestina em 2008 que você entendeu a escala do regime de ocupação e de apartheid e suas semelhanças com a Índia ocupada pela Grã-Bretanha, um modelo que você acreditava ter desaparecido no século XX. Como essa experiência mudou sua maneira de pensar?
Na Índia, crescemos com uma narrativa segundo a qual as mentes mais brilhantes do nosso país se uniram para derrotar o supremacismo branco e o imperialismo racial. Quer dizer, eu cresci pensando que esse é o caminho que a justiça toma no mundo moderno. Mas depois vou para a Palestina e vejo que o mesmo racismo, supremacismo branco e imperialismo que achava que tinham sido superados décadas atrás ainda estão dominantes aí. Como é possível que Israel continue a roubar territórios, matando quantos palestinos quiser a qualquer momento, e nada aconteça? É como viajar para um lugar onde você descobre que a escravidão ainda existe. Foi um choque muito profundo.
Fonte: Site Instituto Humanitas Unisinos
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