ECONOMIA – Super-ricos aprofundam a desigualdade e colocam a democracia em perigo. Entrevista especial com Pedro Abramovay

Para o advogado a alternativa para as encruzilhadas sociais, políticas e ambientais que vivemos passa por combater a insuportável desigualdade que caracteriza os tempos de hoje

Entre o final dos anos 1970 e 2008, quando houve a grande crise financeira internacional, o neoliberalismo viu sua curvatura ascendente como grande paradigma econômico, político e social. De lá para cá, o que se sucedeu foram sempre posturas ainda mais reativas a qualquer avanço social promovido pelo Estado, capturando-o em favor do sistema financeiro mundial. Hoje vivemos a aceleração radical disso com consequências políticas concretas em relação às populações vulnerabilizadas.

“A partir de 2008, com a crise financeira global, passou a ficar cada vez mais difícil defender a ideia de que era possível gerar prosperidade com um estado mínimo. Mas o debate se intensificou com a emergência da China como uma superpotência global, valorizando um modelo de desenvolvimento no qual o Estado tem um papel enorme na definição das prioridades do país e na implementação de políticas industriais”, pondera Pedro Abramovay, em entrevista por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

Na contramão de um discurso ainda hegemônico que se deve reduzir impostor, Abramovay demonstra que o único caminho possível é o contrário. “Reforçar a capacidade dos Estados de arrecadar recursos próprios é o ponto central para que os Estados possam ser soberanos e também para que a democracia possa fazer sentido. Pois tanto um estado mínimo quanto um estado profundamente endividado transformam a democracia em um esforço vazio, afinal a disputa política se dá em torno de uma instituição sem autonomia, sem poder”, propõe.

Pedro Abramovay é advogado e vice-presidente de programas da Open Society Foundations. Formado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, possui mestrado em Direito Constitucional pela Universidade de Brasília e doutorado em ciência política pelo IESP-UERJ.

Casos como o de Elon Musk, herdeiro, extremista de direita e bilionário que após a vitória de Trump faturou milhões de dólares em ativos financeiros, são exemplares de como os super-ricos produzem desigualdades insuportáveis. “Claro que o caso mais gritante é o de Elon Musk, o homem mais rico do mundo, que praticamente comprou seu assento no Salão Oval da Casa Branca, nos Estados Unidos. Após décadas de discussão sobre os mecanismos de controle para que o dinheiro privado não pudesse controlar diretamente a política, todos esses mecanismos desabam e vemos o uso do poder beneficiando diretamente pessoas que compraram a acesso a ele”, acrescenta.

“A democracia não é um exercício simbólico. É uma forma de se decidir sobre o exercício do poder. As décadas de prevalência do neoliberalismo foram esvaziando o papel do Estado, tanto do ponto de vista decisório (com enorme pressão de organismos internacionais para a adoção de uma agenda ‘consensual’) quanto do ponto de vista de recursos”, sublinha o entrevistado.

Fonte: Site Instituto Humanitas Unisinos
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