ARTIGO – PROFECIA E TEOLOGIA NO FEMININO PLURAL

Com estas reflexões desejo caminhar em busca das pegadas deixadas por algumas mulheres, ao longo da história do Povo de Deus. Uma história que conhecemos a partir de grandes homens do passado, patriarcas, profetas, reis, escravos, sacerdotes e seus servos…uma história que parece muito linear e cujos conflitos são facilmente resolvidos a partir dos homens, dos homens de poder e de seus interesses. Assim nos ensinaram, assim aprendemos e, muitas vezes, reproduzimos.

Com o passar dos anos, aprendemos que na vida e na história nada é linear, nem fácil e que, muitas vezes, o que não se diz, o que não se quer lembrar, não se quer mostrar pode ser muito interessante, importante e necessário para compreender não só a história do mundo, dos povos, mas a nossa própria vida e história. Foi assim que nós, as mulheres, nos desafiamos a reler, pesquisar, refletir e produzir nossas reflexões, com nossos olhos, nossa cabeça, nosso coração e nosso corpo.

Pessoalmente me senti desafiada a buscar justamente o que no Livro e também nas pesquisas parece nem ter existido, não aparece, não é escrito. As que mais faltam são mulheres, sobretudo mulheres empobrecidas: nos textos sagrados não tem nomes, nem ações, nem vida de mulheres, por séculos. Então senti que precisava trazê-las à luz, encontrar suas pegadas mesmo que enterradas sob séculos de opressão patriarcal e sagrada, mais pesada que camadas de areia, resgatar e revelar suas memórias que resistiram e fortaleceram a caminhada de mulheres e homens e chegaram até nós, que ainda sofremos exclusões e opressões, mas buscamos resistir, caminhar, iluminar nossas vidas e a vida de todo o povo que sempre busca uma terra boa e farta, terra de leite e mel, terra de paz.

É este o caminho que proponho, acolhendo o convite de algumas mulheres do MFPC, para partilhar reflexões que nunca foram somente minhas, mas uma construção de quem me encorajou e fortaleceu no desafio que me propôs. Reflexão muitas vezes partilhada e verificada junto a mulheres camponesas, ribeirinhas, presas, estudiosas da bíblia, parceiras nos caminhos de pastoral e bíblia, por onde ando nos meus mais de 40 anos de vida missionária no Brasil, sobretudo na Amazônia. Vamos juntas, então, encontrar companheiras menos conhecidas do Povo da Bíblia, que nos enriquecem com sua reflexão que é teologia e profecia, por revelar um rosto de Deus que Jesus nos revelou e mostrou de forma definitiva, nascendo de mulher, de Maria de Nazaré, com quem conviveu até seus 30 anos, na vilazinha da periferia do império romano, longe do templo e dos palácios, onde ele só entrará, no final de sua vida, amarrado e arrastado!

 

Colunista: Ana Maria Galazzi

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