Estamos perplexos e decepcionados. Mais uma vez, o avanço tão esperado para a inclusão plena das mulheres na hierarquia da Igreja Católica foi interrompido. O Papa Francisco, líder admirado por suas posturas progressistas em muitas áreas, pediu que o Sínodo dos Bispos no Vaticano suspenda as discussões sobre a ordenação de mulheres ao diaconato, afirmando que a questão “não está madura” o suficiente. Mas a pergunta que muitos de nós fazemos é: quando estará?
A resposta soa vaga, e o problema maior é o quanto essa indefinição enfraquece a vitalidade da Igreja no mundo contemporâneo. Não estamos mais na Idade Média, e a Igreja precisa dialogar com o século XXI, com seus desafios e avanços em igualdade de gênero. A ausência de mulheres ordenadas e a persistência do celibato obrigatório para os padres são tabus que, em vez de preservar a tradição, contribuem para a estagnação de uma instituição que clama por renovação e relevância.
A exclusão das mulheres do diaconato, e por extensão de outros ministérios, perpetua uma desigualdade que não reflete o espírito do Evangelho. Estamos falando de mulheres que, ao longo dos séculos, têm sido o coração pulsante da Igreja em suas comunidades, nas paróquias, em obras missionárias e nos serviços sociais. Elas são líderes espirituais, educadoras, assistentes sociais e vozes proféticas – mas permanecem à margem quando se trata de exercer plenamente seus dons no ministério ordenado.
Se a ordenação de mulheres como diáconas “não está madura” agora, resta perguntar: quando estará? Estaremos condenados a esperar mais uma geração? E se assim for, quantos mais se afastarão da Igreja, desiludidos com sua incapacidade de evoluir? O risco de perda de vitalidade é real e já está em curso.
O mesmo pode ser dito da questão do celibato dos padres. A realidade é que muitos homens que se sentem chamados ao sacerdócio são desencorajados por uma regra que, em muitos casos, torna-se um fardo desnecessário. Será que o celibato, como uma exigência absoluta, ainda serve aos propósitos da Igreja ou se tornou um empecilho à sua renovação?
Papa Francisco, conhecido por sua humildade e seu desejo de uma Igreja “em saída”, uma Igreja que acolha os marginalizados, precisa ir além das palavras quando se trata de reformas estruturais. A Igreja deve refletir a realidade de seu povo e se abrir à possibilidade de que a liderança feminina ordenada possa revitalizar uma instituição que perde fiéis ano após ano.
Portanto, ao barrar a discussão sobre mulheres diaconisas, a pergunta que surge é: o que mais precisa ser discutido? O que resta para amadurecer quando tantos já reconhecem o papel vital das mulheres na Igreja? Não se trata apenas de um debate teológico ou de preservar tradições que muitas vezes parecem mais ligadas ao controle do que à fé. Trata-se de justiça, equidade e reconhecimento do valor pleno de todos os membros da Igreja.
A Igreja é composta de homens e mulheres, e ambos devem ser reconhecidos igualmente em todos os seus papéis. Chegará o dia em que essa verdade será inevitável. Mas, como muitos já estão se perguntando, quando isso acontecerá? A história já mostrou que esperar gerações para mudanças que já são óbvias aos olhos de muitos é um caminho perigoso.
A questão não é se estamos prontos para discutir a ordenação de mulheres e a abolição do celibato obrigatório – mas se a Igreja está pronta para sobreviver às suas próprias resistências.