Neste domingo, o XXXIII do Tempo Comum (conforme o Rito da Igreja Católica Romana), o Papa Francisco, por meio da Carta Apostólica Misericordia et Misera, de 20 de novembro de 2016, instituiu o Dia Mundial dos Pobres. Segundo o Papa Francisco, MISERICÓRDIA E MÍSERA (misericordia et misera, em latim) são as duas palavras que Santo Agostinho utiliza para descrever o encontro de Jesus com a mulher acusada de adultério pelos escribas e fariseus, conforme Jo 8,1-11.
O pensador (hoje com 103 anos) Edgar Morin, ateu confesso e grande admirador do Jesus humano, afirma que este episódio inaugura, por parte do Nazareno, a individualização e a humanização do perdão. A partir daí, “o perdão pôde emancipar-se da religião e transformar-se em força ética”.
Nada causa mais medo à classe dominante brasileira, boçal e entre as mais perversas do mundo, do que o pobre (o empobrecido, no caso) munido de consciência de classe sobre a origem da miséria social criada pelo sistema do capital.
wwwSegundo Edgar Morin, Jesus, por meio da pedagogia da práxis, saiu em defesa da mulher e impôs aos acusadores dois argumentos invencíveis: o do autoexame (a força da dúvida) e o da compreensão da cegueira humana (a força da ignorância arrogante).
É preciso dizer que não há saída para o mundo dos empobrecidos fora do método da luta de classes, sem o que nunca haverá práxis nem objetivação dialética do real. O filósofo russo Kopnin escreve que a incorporação da prática à teoria do conhecimento é a maior conquista do pensamento filosófico.
O Mouro de Trier, numa de suas cartas (citada por M. Godelier) diz sem meias palavras que somente a luta de classes porá fim a toda essa merda, a merda da exploração que sustenta a burguesia.
wwwAs três afirmações do velho Marx, abaixo descritas, nos dão a medida epistêmica do poder da práxis:
01. A teoria converte-se em força material quando penetra nas massas.
02. A filosofia encontra na classe trabalhadora seu (verdadeiro) poder material, e a classe trabalhadora encontra na filosofia seu (verdadeiro) poder teórico.
03. (Pela práxis) a crítica do céu transforma-se em crítica da terra, a crítica da religião em crítica do direito, e a crítica da teologia em crítica da política.
Conclusão: Jesus de Nazaré sentir-se-ia mais próximo do ateísmo de Marx e Morin do que da religião dos escribas e fariseus.