RELIGIÃO – “O Sínodo demonstrou que a Igreja Católica mantém uma confusão que impede qualquer reflexão séria sobre o exercício do poder”. Artigo de Paule Zellitch e Guy Legrand

 

Paule Zellitch, presidente da Conférence catholique des baptisés francophones, e Guy Legrand, membro da CCBF, deploram a persistência de uma modalidade de governo arcaica e antidemocrática na Igreja, que “não é estranha à imensa dificuldade do sistema eclesial em combater os abusos”.

Em sua forma atual, um sínodo dos bispos é uma assembleia consultiva e deliberativa, com o papa tendo a palavra final. O objetivo inicial do último sínodo, cuja assembleia geral, também aberta a alguns leigos, terminou no final de outubro, era pensar quais mudanças fossem desejáveis na Igreja, no contexto das revelações sobre a disseminação dos abusos de todos os tipos cometidos por padres.

No decorrer do processo sinodal, o objetivo primário foi perdido de vista em favor dos meios a serem utilizados para alcançá-lo. O “método sinodal”, o “método de sínodo”, foi usado para avaliar a eficácia do sínodo. O “método sinodal”, concebido como um fim em si mesmo, tornou-se o principal objetivo desse sínodo. Como resultado, a assembleia não conseguiu enfrentar uma série de questões importantes, especialmente os fundamentos da governança.

Recusa do debate

Em primeiro lugar, quando aos católicos é dada a palavra, eles a usam. O sínodo deu a palavra aos fiéis que, em sua maioria, a usaram, no quadro da ampla consulta organizada na fase de preparação.

Assim, apesar da inevitável diluição e reformulação das sínteses produzidas pelos bispos de cada país e depois de cada continente, a reivindicação por uma maior igualdade entre homens e mulheres nas funções eclesiásticas emergiu amplamente da consulta em todo o mundo.

No entanto, durante as assembleias gerais do sínodo, assistimos a uma recusa de princípio do debate [o tema do diaconato feminino, entre outros, foi excluído das discussões] como método de construção de consenso pela instituição eclesial. Uma recusa implementada com a escolha da noção de “conversação no Espírito Santo”: o objetivo era reduzir o espaço para o debate e o confronto construtivo, percebido pelo magistério da Igreja como um ataque ao seu conceito de unidade, herdado nas suas modalidades do Império Romano, a partir da época de Constantino.

Esses elementos são característicos do paradoxo que esse sínodo deveria ter resolvido: a Igreja Católica Romana, sociedade organizada em ordens hierárquicas, pode coexistir hoje em uma sociedade civil cujo princípio fundamental, agora secular, é a igualdade dos indivíduos, com a organização social que disso resulta?

A Igreja e a sociedade civil operam de acordo com dois modelos antinômicos. Uma sociedade de ordens, organizada em duas castas separadas e hierarquizadas (clérigos leigos), diante de uma sociedade baseada na igualdade dos direitos, sem distinção entre os sexos, com características diferentes:

Fonte: Site Instituto Humanitas Unisinos
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