Dakota do Sul, a missão fecha e os jesuítas devolvem a terra aos Sioux

 Maria Teresa Pontara Pederiva – Trento7

 Foto: Os jesuítas devolvem a terra aos Sioux . VaticanInsider/LaStampa

 Com o contexto social profundamente alterado, a Companhia de Jesus devolve aos nativos americanos o que tinham recebido do governo há 140 anos para fins religiosos e humanitários

“Caminhando juntos, livres e obedientes, indo para as periferias aonde outros não chegam”.

Esta tinha sido a exortação do Papa Francisco aos seus confrades jesuítas reunidos em outubro passado na 36ª Congregação Geral, em Roma.

Uma Ordem essencialmente missionária (em cujas fileiras há santos como Francisco Xavier e Pedro Claver) que ao longo dos tempos viu os membros da Companhia de Jesus partirem para as zonas mais remotas da Terra.

‘Homens de fronteira, de diálogo e de discernimento”- assim os chamou Bergoglio indicando a necessidade de reler os sinais dos tempos em rápida mudança e agir em conformidade.

O padre John Hatcher SJ, responsável pela missão católica de St. Francis, uma pequena cidade no Condado de Todd no Dakota do Sul, perto da fronteira com o Nebraska, nas últimas semanas passou das palavras aos fatos.

Um sinal dos tempos: no final de maio será concluída a restituição de mais de 525 hectares de terras de propriedade dos jesuítas aos nativos americanos da tribo Sioux sediados na reserva Rosebud Indian Reservation (15.000 moradores, mas mais de 25 mil registrados).

Quase 140 anos atrás os missionários tinham chegado ao Dakota do Sul e em 1880 tinham recebido em concessão do governo dos Estados Unidos uma grande área de terras a ser destinada a fins religiosos e humanitários.

 Os jesuítas devolvem a terra aos Sioux

 

“Nos dias gloriosos da missão tínhamos 23 postos de missão – comenta o padre Hatcher – depois, com o passar dos anos, à medida que as pessoas deixavam a pradaria e os campos, as igrejas foram fechadas gradativamente, por não terem mais uso. Agora chegou o momento de devolver a terra porque a concessão não tem mais razão de ser”.

O jesuíta não tem motivos para se arrepender, consciente de ter gasto grande parte de sua vida em favor dos mais fracos em um recanto dos Estados Unidos que ainda hoje pode ser definido como de fronteira.

Originário de Tampa, na Flórida, nascido em 1943, filho de um pastor batista e de mãe católica, membro da Companhia de Jesus desde 1961, chegou à reserva em 1972 para uma permanência prevista de apenas seis semanas, junto com o confrade Patrick Mc Corkell: ficou lá por mais de 40 anos.

Formado em filosofia e história no College dos Jesuítas em Spring Hill no Alabama, tinha ensinado em outras “fronteiras” como a dos EUA com o México em El Paso, no Texas, antes de ir para Toronto para os estudos de teologia. A educação dos mais jovens e a escola foram nas últimas décadas a sua missão mais autêntica.

 “Sou professor por natureza – dizia em 2013 aos seus confrades – sinto-me bem quando meus alunos me desafiam numa discussão, como aconteceu aqui”.

 O padre Hatcher está ciente de que os nativos americanos (aqueles poucos milhares que sobreviveram) são uma população sempre colocada à margem da sociedade americana, embora ele prefira dizer simplesmente “negligenciada”.

 “São pessoas em grande parte com um baixo nível de escolarização, muitas vezes dadas ao álcool, às drogas, e às vezes com depressão. No entanto eles são portadores de muitos dons que podem compartilhar, especialmente quando se sentem valorizados: não lhes falta nada para ter sucesso como outros americanos, mas é preciso acreditar em cada um deles”.

Crianças Sioux, hoje

In: http://1.bp.blogspot.com/-dB-OjWQM5X8/T84YnC8R_cI/AAAAAAAAANM/7h68ZM9mBOo/s1600/sioux-ABC_2020_Pine_Rdge.jpg

 

Na primavera de 1975 o padre Hatcher tinha trabalhado com o bispo da Diocese de Rapid City para o estabelecimento de um Centro espiritual a serviço dos índios Sioux com o objetivo de valorizar o seu patrimônio religioso (e os seus símbolos) dentro da comunidade eclesial católica.

Com o envelhecimento progressivo da população da reserva, muitas vezes sobrava para os religiosos apenas para o serviço fúnebre. Com a diminuição do número de crianças e jovens (contudo são mais de 200 os que frequentam os grupos de catequese), o padre Hatcher voltou a sua atenção também para as diversas formas de problemas sociais:

  • pobreza generalizada,
  • crise das famílias,
  • dependência de álcool e drogas,
  • aumento dos suicídios

e assim por diante.

Numa região com alta taxa de desistência escolar, especialmente a desistência na hora de ingressar no ensino superior, o religioso obteve permissão para abrir a Sapa Academy, uma instituição educacional dedicada especificamente às situações de risco, conseguindo levar os estudantes até à formatura em faculdades e universidades.

 “Espero que alguns desses jovens possam retornar para o meio do seu povo como empresários, engenheiros, professores, profissionais de saúde, administradores e se tornem um modelo para as gerações seguintes” –  é o desejo do padre Hatcher, cuja presença fará falta a muitos, especialmente pela sua  confiança inabalável em cada um deles.

“Temos de aprender uma nova maneira de olhar o mundo, de ver as coisas e depois falar – explicava o superior geral [dos jesuítas] em uma entrevista ao padre Spadaro – ir para as fronteiras e ver como vivem os outros… há sempre muito de bom nas outras pessoas, nas outras culturas, nas outras religiões…”.

A terra devolvida agora aos Sioux “poderia ser utilizada  ​​para fins de cultivo agrícola ou para pastagem, mas também poderia ser colocada a serviço da comunidade Sioux. Ou continuar a ser usada para fins religiosos” – declarou há alguns dias Harold Compton, vice-diretor executivo da Tribal Land Enterprises, a sociedade que administra as terras da Reserva.

Uma terra que eles definem como “valiosa” (um valor estimado de 1.000-2.000 dólares por acre*), mas que os jesuítas vão entregar gratuitamente como gratuitamente a receberam no passado.

Uma benfeitora da agora ex-missão de St. Francis (como de muitas outras) foi, quando da morte de seu pai em 1885, juntamente com as irmãs Elizabeth e Louisa irmãs, Katherine Drexel – a segunda cidadã americana, depois de Elizabeth Seton, a ser canonizada em 2000 – fundadora depois da congregação das Irmãs do Santíssimo Sangue**, dedicadas à evangelização dos nativos americanos. Deve-se a ela a impressão do primeiro catecismo Navajo.

 

NOTAS

* 4046.86 m2 aproximadamente.

** A congregação fundada por Katherine Drexel é a das Irmãs do Santíssimo Sacramento para os índios e negros (‘Institutum Sororum a Sanctissimo Sacramento pro Indianis Gentibusque Coloratis’).

 

Maria Teresa Pontara Pederiva

Maria Teresa Pontara Pederiva

Fonte: http://www.lastampa.it/2017/05/16/vaticaninsider/ita/nel-mondo/sud-dakota-la-missione-chiude-e-i-gesuiti-restituiscono-la-terra-ai-sioux-y5UYz2bFa3gMfK2stGAtUM/pagina.html

 

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