Maior líder da Igreja Católica brasileira, Arns enfrentou militares e defendeu a periferia. Um filme sobre sua vida, que foi muito além das crenças religiosas, será lançado em breve
Brasil |EL PAÍS Brasil –14/12/2016
João Pedro Stédile, coordenador nacional do Movimento Sem Terra, afirmou que sem ele os movimentos sociais careceriam de guia.
“A maioria dos movimentos que hoje existe, MST, MAB [Movimento dos Atingidos por Barragens], Movimento dos Pequenos Agricultores, Comissão Pastoral da Terra, Cimi [Conselho Indigenista Missionário], nascemos orientados por vossa sabedoria, que pregava: em tempos de ditadura, deus só ajuda quem se organiza. Então fomos nos organizar. Queremos agradecer de coração por tudo que o senhor fez nesses 95 anos, sobretudo porque o senhor ajudou a acabar com a ditadura militar no Brasil”, disse Stédile. Corintiano, o arcebispo também recebeu homenagens, na ocasião, do coletivo Democracia Corinthiana.
Fonte: CNBB
No Brasil, Dom Paulo Evaristo foi bispo e arcebispo de São Paulo entre os anos 60 e 70. Quando assumiu a Arquidiocese de São Paulo, a segunda maior comunidade católica do mundo, em 1970, uma de suas primeiras medidas foi vender o Palácio Pio XII, residência oficial do arcebispo, para financiar terrenos e construir casas na periferia. Em 1972, ele criou a Comissão Brasileira Justiça e Paz, que articulou denúncias contra abusos do regime militar.
Chegou a ser fichado no Departamento de Ordem Política e Social (Dops) em 1979. Em 1985, o cardeal criou a Pastoral da Infância com o apoio da irmã Zilda Arns, que morreu no Haiti, onde realizava trabalhos humanitários, vítima do forte terremoto que destruiu parte do país em 2010. Arns também foi o fundador, ao lado do pastor presbiteriano Jaime Wright, do projeto Brasil: Nunca Mais, que reuniu documentos oficiais sobre o uso da tortura no Brasil.
Sua história, contada em dois livros lançados pelo jornalista Ricardo de Carvalho, O Cardeal e o Repórter e O Cardeal da Resistência, chegará às telas do cinema com o filme Coragem – As muitas vidas de dom Paulo Evaristo Arns. Dirigido por Carvalho, o documentário – coproduzido pela Globo Filmes e o primeiro a ser feito sobre o arcebispo – retrata sua resistência ao regime militar e está prestes a ser concluído.
“Mestre inesquecível” e “voz destemida”
A morte de Dom Paulo Evaristo Arns despertou nesta quarta-feira reações de diferentes personalidades.
O teólogo e acadêmico Leonardo Boff, com quem ele conviveu, afirmou que Arns foi seu “mestre inesquecível”. E acrescentou: “Disse um poeta latino-americano ‘morrer é fechar os olhos para ver melhor’. É o que ocorreu com o cardeal Arns. Agora vê Deus face a face”.
Em nota oficial, o presidente Michel Temer afirmou que “o Brasil perde um defensor da democracia e ganha para sempre mais um personagem que deixa lições para serem lembradas eternamente”.
João Doria, prefeito eleito de São Paulo, também falou sobre a perda: “São Paulo e o Brasil perdem um grande ser humano. Dom Paulo nos deu exemplos de tolerância, defesa dos mais humildes, justiça social e amor pelo próximo”.
Já o ex-presidente Lula ressaltou a luta do cardeal contra a violência das várias ditaduras militares na América Latina: “Nossa América perdeu a voz destemida que enfrentou ditaduras truculentas e o braço amigo que abrigou centenas de refugiados que eram perseguidos nos países vizinhos”.
A senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) o definiu como “forte, doce e aguerrido”. “Nós, brasileiros, devemos muito à sua coragem, à sua capacidade de enfrentar injustiças e o desrespeito aos direitos humanos”.
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