Andrea Grillo – 01/09/2016 no blog: Come se non
Tradução: Orlando Almeida
“Os sonhos de Martini e os projetos de Francisco: nesta correspondência, com menos de 20 anos de distância, tentemos recuperar o terreno perdido”.
A afirmação é de Andrea Grillo, leigo, casado, Doutor em teologia pelo Instituto de Liturgia Pastoral de Pádua, professor do Pontifício Ateneu S. Anselmo, de Roma, do Instituto Teológico Marchigiano, de Ancona, e do Instituto de Liturgia Pastoral da Abadia de Santa Giustina, de Pádua.
Em outubro de 1999, Carlo Maria Martini pronunciava no Sínodo dos bispos para a Europa um famoso discurso, no qual apresentava alguns “sonhos” que o tinham visitado. Em particular, o terceiro sonho era de uma profecia surpreendente:
” Um terceiro sonho é que o retorno festivo dos discípulos de Emaús a Jerusalém para se encontrarem com os apóstolos se torne estímulo para repetir de vez em quando, durante o século que se inicia, uma experiência universal de debate entre os bispos, que sirva para desatar algum dos nós disciplinares e doutrinais que talvez foram pouco lembrados nestes dias, mas que reaparecem periodicamente como pontos quentes no caminho das Igrejas da Europa, e não apenas da Europa.
- Penso em geral nos aprofundamentos e nos desenvolvimentos da eclesiologia de comunhão do Vaticano II.
- Penso na carência, já dramática em alguns lugares, de ministros ordenados e na dificuldade crescente de um bispo de prover um número suficiente de ministros do Evangelho e da Eucaristia para cuidar das almas em seu território.
- Penso em alguns temas que dizem respeito
- à situação da mulher na sociedade e na Igreja,
- à participação dos leigos em algumas responsabilidades ministeriais,
- à sexualidade,
- à disciplina do matrimônio,
- à práxis penitencial,
- às relações com as Igrejas irmãs da Ortodoxia
- e mais em geral à necessidade de reavivar a esperança ecumênica,
- penso na relação entre democracias e valores e entre leis civis e lei moral”
Nos projetos do papa Francisco podemos ver uma espécie de “realização” providencial deste sonho. Em vista do Sínodo Ordinário 2018 poder-se-ia prever – ou sonhar – um caminho semelhante ao que foi feito sobre o tema da “família”:
- realizar antes do Sínodo ordinário de 2018,
- um Sínodo extraordinário em 2017.
Cuja preparação deveria começar no outono de 2016. Portanto muito em breve.
O tema – tomando como base o que emergiu do debate eclesial nestes anos – poderia ser o “ministério ordenado na Igreja”.
Em particular poderiam ser tratados:
- O exercício colegial do Episcopado e a restituição ao Bispo da plena autoridade sobre a liturgia diocesana.
- A formação dos sacerdotes (com o reexame da forma tridentina do seminário) e a possibilidade de ordenação de homens casados.
- A teologia do diaconato e a possibilidade de um diaconato feminino.
Ao lado destes temas emergentes, e com base na experiência do Sínodo sobre a família também deveriam ser consideradas duas modalidades de procedimento:
– mesmo para um sínodo sobre o “ministério ordenado” seria muito recomendável começar “de baixo”;
- consultando a base e formulando um questionário para cada Sínodo, por meio do qual solicitar opiniões qualificadas das comunidades eclesiais.
- Na formulação das perguntas seria muito útil que fossem evitadas “falsas perguntas”;
– seria muito oportuno pensar na retomada de uma “feliz experiência conciliar“, que colocou ao lado de cada bispo um “expert”. No recente caminho sinodal surgiu grande evidência um vistoso déficit teológico. Se cada bispo tivesse junto dele um especialista – como acontecia no Vaticano II – isso poderia ajudar na mediação, no desenvolvimento, na ideação e no próprio exercício da autoridade.
Os sonhos de Martini e os projetos de Francisco: nesta correspondência, com menos de 20 anos de distância, tentemos recuperar o terreno perdido.
«Audacius scripsi»
Andrea Grillo
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