Maria de mais  –   Maria de menos

Pr. Elben Cesar

Maria de menos é um erro. É uma injustiça desnecessária contra a mãe de Jesus. É uma ofensa ao catolicismo romano. É um extremo que excita o outro extremo. É um erro de estratégia missionária. É como se você levantasse a sua voz contra o sexo e não contra a corrupção do sexo. Ê como se você extirpasse o estômago inteiro e não a parte afetada pela doença. Mas, Maria de menos não mexe no intocável, não mexe na estrutura teológica do cristianismo.

Não se pode dizer o mesmo da posição católico romana. Maria de mais é um desastre, é uma sutileza, é uma cilada, é uma tragédia. A ênfase demasiada a Maria é muito mais que uma injustiça contra Jesus. É muito mais que uma ofensa aos protestantes, aos judeus e aos muçulmanos, bem avisados do perigo da idolatria, mesmo encoberta e camuflada. Maria de mais não é coisa de somenos importância, não é apenas uma questão de cultura.

A elevação de Maria implica na diminuição de Jesus, tanto no terreno teológico como no terreno da devoção particular. É exatamente aí que se localiza o desastre. Embora a doutrina católica não retire de Jesus a sua divindade nem negue que ele é “o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29), a propaganda de Maria se incumbe de escurecer o caminho e de acabar com a singularidade de Jesus, Maria não cresceu de repente. O catolicismo romano foi dando a ela posições cada vez mais altas.

Se a respeito desta caminhada, Maria pudesse ser ouvida, sem dúvida alguma ela diria como João Batista: “Convém que ele cresça e que eu diminua.” (Jo 3.30.) Em 1854 o papa Pio IX declarou oficialmente que Maria foi concebida sem pecado (Dogma da Imaculada Conceição). Menos de um século depois (1950), Pio XII decretou que Maria foi assunta à glória celeste em corpo e alma (Dogma da Assunção).

Ela é também chamada de Rainha do Universo (na encíclica Ad caeli Reginam, de Pio XII, de outubro de 1954). A Igreja Católica Romana não hesita em afirmar que Maria, uma vez assunta aos céus, “por sua multíplice intercessão, prossegue em granjear-nos os dons da salvação eterna”, tornando-se digna dos títulos de Advogada, Auxiliadora, Adjutriz e Medianeira (Compêndio do Vaticano II, pág. 109).

Em alguns círculos, já se fala de Maria como Corredentora, isto é, redentora ao lado de Jesus, o que é uma violência contra as Sagradas Escrituras e contra o próprio Jesus Cristo. Para sustentar o tamanho absurdo é preciso silenciar para sempre a Epístola aos Hebreus, que demonstra a eficácia do sacrifício de Jesus e a superioridade dele sobre todos os sacerdotes. Todo o cerimonial e todas as profecias do Velho Testamento apontam para Jesus e nele se cumprem plenamente. Colocar Maria ao lado de Jesus é uma infâmia, que ela mesma repudiaria energicamente.

A tentação de deslocar Maria de seu glorioso lugar na encarnação do Verbo para posições ainda mais altas sempre existiu. Os padres antigos diziam perigosamente que “o nó da desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria”.

Nesta comparação, pregavam que “veio a morte por Eva e a vida por Maria”, enquanto as Escrituras Sagradas ensinam que “como pela desobediência de um só homem (Adão) muitos se tornaram pecadores, assim também por meio da obediência de um só (Jesus) muitos se tornarão justos” (Rm 5.19). Não se pode trocar Jesus por Maria, nem tampouco colocar Maria ao lado de Jesus.

A Palavra de Deus declara que a Igreja está edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, “sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular” (Ef 2.20).

Mas a Igreja Católica Romana coloca Maria acima dos apóstolos e o decreto Presbyterorum Ordinis chama-a de Rainha dos Apóstolos (Compêndio do Vaticano II, pág. 476).

Até a escultura sacra contribue para dar a Maria o que ela não tem: o poder e o direito de pisar e esmagar a cabeça da serpente. O mais antigo anúncio do evangelho explica que o descendente da mulher (Jesus), e não a mulher (Maria), feriria a cabeça da serpente (Gn 3.15).

Não obstante, por ocasião da II Conferência Missionária da Igreja Presbiteriana de Maringá, PR, vimos a imagem de Maria e a serpente sob os seus pés, na Paróquia Cristo Ressuscitado, muito embora na entrada do templo houvesse uma bela e correta definição de cristianismo. Ao observador evangélico salta aos olhos um outro detalhe muito incômodo — ao lado direito do altar havia uma imagem de Jesus e do outro a imagem de Maria…

Não será fácil voltar atrás. Todavia é preciso crer no poder do Espírito e da Palavra. A sinceridade com que não poucos católicos romanos estão buscando a Deus pode abrir novos caminhos. Por meio da oração. Por meio da leitura e estudo das Sagradas Escrituras.

Por meio da íntima comunhão com Deus. Por meio do fervor evangelístico. Especialmente por meio do Espírito Santo, cujo ministério é enaltecer a Cristo: “Ele me gloriará.” (Jo 16.14.) Então se fará a vontade de Deus — “A ele ouvi” (Mt 17.5) — e a vontade de Maria — “Fazei tudo que ele vos disser” (Jo 2.5).

(Publicado originalmente em Ultimato, outubro 1989, p. 25)

 

Pr. Elben Cesar

Pr. Elben Cesar

da Igreja Presbiteriana de Viçosa, MG

Editor da revista ULTIMATO

 

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Maria de menos

Amaury de Souza Jardim

Ganhamos um terreno no subúrbio de Oswaldo Cruz, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, para construir um templo na frente e um abrigo de velhinhos atrás.

Depois de tudo pronto, surgiu a pergunta: Que nome daremos ao abrigo? Pensei logo no nome da diaconisa Maria de Nazaré e o submeti à aprovação dos irmãos.

 

Maria de Nazaré era uma mulher de grande dedicação ao Senhor. Certa noite, após o culto, como sempre fazia, ela recolheu os aparelhos da Santa Ceia e os levou para sua casa, do outro lado da rua. Naquele exato momento, com as bandejas na mão, ela levou um tiro no coração e caiu na calçada. Era uma bala perdida, que até hoje ninguém sabe de onde partiu. A pobre irmã morreu antes de chegar ao hospital.

Por sua consagração ao Senhor, por seu envolvimento na igreja e por ter morrido no serviço de Deus, em circunstância tão dramática, fiquei totalmente supreendido quando não vi nenhuma simpatia pelo nome de Maria de Nazaré.

Procurei sondar o que estava atrás desta resistência e descobri que o problema era apenas o nome da diaconisa morta. Eles me disseram francamente:

“Maria de Nazaré, não, pastor. O senhor não compreende. Se dermos este nome, vai parecer que é um abrigo católico.”   A rejeição foi tão unânime que eu desisti de dar ao abrigo o nome da querida irmã. Está sem nome até hoje.

Fico a pensar na atitude radical que às vezes assumimos contra Maria, em face da idolatria da Igreja Católica, que faz da mãe de Jesus não somente intercessora mas também corredentora. Nunca vi uma classe da escola dominical com o nome de Maria. A gente vê Débora, Rute, Sara, Ester, mas Maria, não. Nunca vi uma mãe crente colocar o nome de Maria numa filha.

Creio que está na hora de restaurar na medida certa a figura de Maria no meio evangélico. Não queremos idolatrá-la, não queremos dar a ela a condição de intercessora, muito menos de corredentora. Maria é a mulher mais privilegiada que já nasceu neste mundo. 0 preconceito é tão grande que nós não damos o nome de Maria de Nazaré ao abrigo de Oswaldo Cruz só por causa da coincidência do nome. A homenagem não era à Virgem Maria, mas à diaconisa Maria de Nazaré.

Amaury Jardim
é reitor do Seminário Teológico Congregacional do Rio de Janeiro, deão acadêmico do Seminário Teológico Betel (batista) e presidente da União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (UIECB).

(Publicado originalmente em Ultimato, outubro 1989, p. 24)

Leia um trecho do livro Maria, Um Modelo Bíblico de Espiritualidade

 

Pr. Amaury de Souza Jardim

 

Fonte dos dois artigos: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/298/maria-de-mais-e-maria-de-menos

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