“Formamos uma única entidade, vale dizer, um único ser, complexo, diverso, contraditório e dotado de grande dinamismo. Tal asserção pressupõe que o ser humano não está apenas sobre a Terra. Não é um peregrino errante, um passageiro vindo de outras partes e pertencendo a outros mundos. Não. Ele, como homo (homem) vem de húmus (terra fértil). Ele é Adam (que em hebraico significa ‘o filho da terra fértil’) que nasceu da Adamah (‘terra fecunda’; Gen 2,7). Ele é filho e filha da terra. Mais, ele é a própria Terra em sua expressão de consciência, de liberdade e de amor. Através dele ela contempla o universo”, escreve Leonardo Boff, teólogo, filósofo e escritor.
Eis o artigo.
Nos últimos tempos estamos assistindo, estarrecidos, conflitos e guerras em várias partes no planeta, por pedaços de territórios, especialmente na Faixa de Gaza, no Sudão e na Ucrânia. A partir de uma visão ecológica, tudo isso nos parece um tanto ridículo.
Já em 1795, no famoso texto A Paz Perpetua, escrevia o filósofo Immanuel Kant (1724-1804) que a Terra pertence à humanidade e é um bem comum de todos. Ninguém é dono da Terra ou recebeu do Criador uma escritura de posse dela. Por essa razão não há por que lutarmos entre nós, se tudo é nosso. Hoje enriqueceríamos esta leitura de Kant dizendo que a Terra pertence à comunidade de vida, à natureza, à flora e a fauna e aos quintilhões de quintilhões de micro-organismos escondidos no subsolo, bactérias, fungos e vírus. A Terra é de todos eles, pois foram gerados por ela e precisam dela para viver.
Se houvesse um mínimo de sensatez na cabeça dos humanos, isso seria uma evidência e todos viveríamos dentro da mesma Terra como a Nossa Casa Comum numa paz perpétua. Mas como somos, ao mesmo tempo, sapientes e dementes, portadores de razoabilidade e de insanidade, há épocas em que predomina insanidade e, em outras, predomina a sensatez. Hoje parece predominar a insanidade generalizada. Daí a disputa por terras em razões das quais se fazem guerras letais. Mas vejamos alguns dados.
O universo já existe há 13,7 bilhões de anos. O sol há 5 bilhões de anos. A Terra há 4,45 bilhões de anos. O ser humano primitivo há 7-8 milhões de anos. O homo sapiens sapiens, de quem descendemos, há 100 mil anos. Se reduzirmos os 13,7 bilhões de anos em um ano cósmico, como o fez o cosmólogo Carl Sagan, nós nascemos no dia 31 de dezembro, às 23 horas e 59 minutos e 59 segundos. Somos, portanto, um momento quase imperceptível do curso cósmico, um minúsculo grão de areia no conjunto dos seres. Mas a nossa grandeza reside em termos consciência de que somos isso e que sabemos o nosso lugar e nossa responsabilidade face ao conjunto dos seres.
De lá da Lua, testemunham os astronautas, a Terra emerge como um planeta esplendoroso, azul e branco, que cabe na palma da mão, um pequeníssimo corpo na imensidão escura do universo.
É o terceiro planeta do Sol, de um Sol de subúrbio, estrela média de quinta grandeza, um entre outros duzentos bilhões de sóis de nossa galáxia, a Via Láctea. Esta galáxia é uma entre outras cem bilhões de outras galáxias junto com conglomerados infindáveis de galáxias. O sistema solar dista 28 mil anos luz do centro da Via Láctea, na face interna do braço espiral de Orion.
O testemunho do astronauta Russel Scheweickhart, que pôde ver a Terra de fora da Terra, resume os relatos de seus companheiros: “Vista a partir de fora, percebemos que tudo o que nos é significativo, toda a história, a arte, o nascimento, a morte, o amor, a alegria e as lágrimas, tudo isso está naquele pequeno ponto azul e branco que podemos cobrir com seu polegar. E a partir daquela perspectiva se entende que tudo em nós mudou, que começa a existir algo novo, que a relação não é mais a mesma como fora antes” (The Overview Effeckt, Boston 1987, p. 200).
Fonte: Site Instituto Humanitas Unisinos
Matéria Completa: Acesse Aqui