“Face à urgência ecológica, a alternativa que se impõe é esta: ou cuidamos de nossa Mãe-Terra ou não haverá uma arca de Noé que nos salve. Bem disse o Papa Francisco em 2025 na encíclica Fratelli tutti (Todos irmãos e irmãs): ‘estamos no mesmo barco, ou nos salvamos todos ou ninguém se salva’”, escreve Leonardo Boff, teólogo, filósofo e escritor.
Eis o artigo.
Não apenas os pobres gritam. Grita também a Terra, feita o Grande Pobre, espoliada em seus bens e serviços naturais limitados. O Papa Francisco falou há dias sobre o grito da Terra e dos pobres. A maior agressão que se lhe faz é não considerá-la como Grande Mãe, Casa Comum e Gaia, um superorganismo vivo que se autorregula e combina todos os elementos necessários para sempre se autorreproduzir e gerar vidas, especialmente, a vida humana, a maior floração do processo de evolução. Ela mal consegue dissolver os desequilíbrios e ainda manter a capacidade de nos alimentar e toda a comunidade de vida.
Hoje, no entanto, ela está se mostrando debilitada. É a sobrecarga da Terra (Earth overshoot). Foi demasiadamente explorada devido à voracidade de alguns cujo projeto é acumular para si bens materiais de forma ilimitada sem sentido de justa partilha com o resto da humanidade. O pior está ocorrendo recentemente. Há um recuo na diminuição de emissão de gases de efeito estufa, o que agrava o aquecimento global com as consequências conhecidas.
Não se reconhecem os direitos da natureza e da Terra, reduzida a um baú de recursos para embasar o projeto ilusório de um crescimento ilimitado, sabendo-se dos limites insuperáveis do planeta.
Cresce a consciência, a partir do Overview Effect dos astronautas que viram a Terra de suas naves espaciais e testemunham que a Terra e a humanidade formam uma única e complexa entidade. Os humanos expressariam aquele ponto de complexidade em que a Terra começou a andar, a pensar, a cantar, a se comover e principalmente a amar.
Face à urgência ecológica, a alternativa que se impõe é esta: ou cuidamos de nossa Mãe-Terra ou não haverá uma arca de Noé que nos salve. Bem disse o Papa Francisco em 2025 na encíclica Fratelli tutti (Todos irmãos e irmãs): “estamos no mesmo barco, ou nos salvamos todos ou ninguém se salva”.
Por isso, na opção pelos pobres contra a pobreza, deve-se incluir a Terra, como o Grande pobre. É nossa missão baixá-la da cruz e ressuscitá-la para que mantenha sua vitalidade.
Uma teologia da libertação integral deve ser uma ecoteologia de libertação como tenho defendido desde os anos 80 do século passado e finalmente oficializada pelo Papa Francisco em sua encíclica Laudato si’: sobre como cuidar da Casa Comum.
A ética ecológica fundamental, suporte de qualquer outro imperativo, exige: que faço para salvaguardar a vida da Terra e na Terra e permitir que todos os seres possam continuar a existir e a viver? O segundo imperativo ético é este: que faço para conservar as condições do ser humano poder subsistir e continuar a evoluir como tem evoluído por milênios.
Fonte: Site Instituto Humanitas Unisinos
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