POLÍTICA – É preciso colocar o bolsonarismo na ilegalidade como é o nazismo”. Entrevista especial com Miguel Rossetto, João Pedro Schmidt e Rudá Ricci

Para os entrevistados, o plano de assassinato de figuras políticas eleitas pelo povo é um atentado à democracia e deve ser combatido duramente pelas forças constitucionais brasileiras

Quem pensou que o bloqueio de rodovias, os acampamentos nos quartéis, a invasão aos três poderes em 8 de janeiro e o ataque do homem-bomba ao Supremo Tribunal Federal (STF) na última semana poderiam ser o auge da violência bolsonarista contra a democracia, foi surpreendido com as novas revelações da Polícia Federal (PF) na terça-feira, 19 de novembro.

Desta vez, chegou à tona um plano detalhado, chamado de Punhal Verde e Amarelo, elaborado por militares de alta patente vinculados ao governo federal da época para executar o presidente Lula e o vice Geraldo Alckmin, assim como o ministro do STF Alexandre de Moraes. Dos cinco presos, quatro são militares e um é agente da PF. As investigações apontam que a organização criminosa se utilizou de elevado nível de conhecimento técnico-militar para planejar, coordenar e executar ações ilícitas nos meses de novembro e dezembro de 2022.

Segundo a PF, no dia 9 de novembro, o general Mario Fernandes, um dos militares presos e que chegou a exercer o cargo de ministro interino do governo Bolsonaro, imprimiu o documento que detalhava o plano para assassinar as autoridades no Palácio do Planalto. Depois levou o material até o Palácio da Alvorada, onde Bolsonaro morava. Já no dia 6 de dezembro, o Punhal Verde Amarelo é novamente impresso pelo general Fernandes. Desta vez, Bolsonaro estava no Palácio do Planalto.

No dia seguinte, o ex-presidente recebeu no Palácio do Alvorada os comandantes do Exército e da Marinha, além do ministro da Defesa, para apresentação de uma minuta golpista. Dia 15 de dezembro era a data prevista para a execução do plano, ou seja, matar as três autoridades.

As consequências deste plano de assassinato e golpe de Estado foram divulgadas nesta quinta-feira (21), quando a Polícia Federal indiciou 37 pessoas, entre elas o ex-presidente Jair Bolsonaro, o candidato a vice na chapa que perdeu a eleição de 2022, Braga Netto, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, ex-diretor da Agência Brasileira de Informações Alexandre Ramagem e o presidente do Partido Liberal (PL) Valdemar da Costa Neto. Eles estão sendo indiciados por abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa em um relatório com mais de 800 páginas feito pela PF.

Para o professor de pós-graduação em Direito e cientista político João Pedro Schmidt, em entrevista concedida ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU por WhatsApp, o auge das evidências são as revelações desta semana sobre o plano de assassinato, com envolvimento direto de integrantes da alta cúpula das Forças Armadas, inclusive do general Braga Netto, candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro. “Fica claro, assim, que os herdeiros da Ditadura Militar de 1964 mantêm a eliminação física dos adversários políticos no seu repertório de ação”, avalia.

Schmidt é um dos entrevistados do Instituto Humanitas Unisinos – IHU em uma série que visa compreender a gravidade dos novos fatos revelados desta trama golpista. Ao projetar os impactos das últimas revelações, o analista afirma que o novo quadro político vem em favor da apresentação da denúncia ao STF. Para ele, uma alta relevância deste cenário “é que os dois fatos (a bomba e as prisões por tentativa de assassinato) tornam inviável o projeto de anistia aos golpistas que estava sendo articulada pela bancada bolsonarista no Congresso Nacional. Não há mais ambiente para defesa da anistia. Há que frisar que são tendências, que podem não se confirmar, mas isso seria terrível para nossa combalida democracia”, projeta.

Comparando os atos recentes com o golpe de 64, o cientista político Rudá Ricci, também em entrevista concedida por WhatsApp ao IHU, ressalta que desta vez não houve uma penetração tão profunda no território nacional e no primeiro e segundo escalão das Forças Armadas, assim como nos comandos regionais, como do exército que são 16 generais. Este contexto pode ter contribuído para a não efetivação do plano. “Desde a reforma do Castelo Branco não se tem mais um comando unificado, o que existe é um comando plural, um colegiado de generais que tomam as decisões no exército e ficam pouco tempo em um comando específico, justamente para evitar esse tipo de liderança carismática com as armas ao alcance das mãos”, salienta.

Fonte: Site Instituto Humanitas Unisinos
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