Quando a Fé nos convoca a um compromisso verdadeiro, ela também nos desafia a confrontar nossas próprias indagações e anseios. O Encontro em Roma, marcado pelo Sínodo da Sinodalidade, levantou grandes expectativas, especialmente entre aqueles que vislumbram mudanças profundas e necessárias na vida eclesial. A Federação Latino-Americana de Padres Casados, por exemplo, enviou ao cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo, uma carta propondo uma revisão corajosa do celibato clerical, uma questão que atravessa séculos de tradição e se embrenha nas vivências e desafios dos próprios sacerdotes.
O clamor destes padres é um convite à Igreja para que reflita sobre o valor do ministério presbiteral que abraça tanto o serviço quanto a vida conjugal. Eles não pedem a eliminação do celibato, mas sim a liberdade para que ele seja opcional, uma vez que acreditam que essa possibilidade poderia enriquecer e fortalecer o testemunho cristão. Contudo, a resposta de Grech, mesmo demonstrando apreço, reflete o aparente bloqueio institucional à inclusão de vozes divergentes no debate sinodal, mantendo a composição dos participantes restrita aos mesmos que participaram do encontro anterior.
As limitações impostas pela hierarquia levantam uma questão incômoda: o quanto realmente estamos abertos a acolher as inquietações que emergem da própria base da Igreja? A insistência na manutenção de práticas que, embora sagradas, não são dogmas, reflete uma resistência à pluralidade que contradiz a proposta sinodal de diálogo e de busca de novas perspectivas. Afinal, o que se espera da sinodalidade, senão o encontro das diferenças e a escuta mútua para o crescimento comum?
De maneira significativa, o Cardeal Grech menciona que “o Senhor sabe fazer presente o clamor na sala do Sínodo”, uma metáfora que oferece certo alento, mas também deixa entrever uma inquietante conformidade com a ausência de vozes na prática. Pois a Igreja não é apenas uma estrutura hierárquica; ela é feita do corpo vivo dos fiéis, que anseiam por uma instituição capaz de dialogar abertamente com as realidades de todos os seus membros, e não apenas dos que ocupam lugares de autoridade.
A questão dos padres casados, tão antiga quanto a própria Igreja, remonta aos primórdios do cristianismo e, ironicamente, ainda hoje é vista como uma inovação ou como uma ameaça ao status quo eclesial. No entanto, o verdadeiro desafio reside em resgatar a autenticidade do serviço pastoral, reconhecendo que a prática do celibato compulsório pode afastar muitas vocações e dificultar o exercício ministerial para quem sente o chamado ao matrimônio.
Assim, o encontro de Roma torna-se um reflexo da expectativa frustrada, pois, embora muitos tenham enviado suas contribuições, parece que o diálogo permanece em níveis superficiais, longe do impacto que poderia ter nas transformações necessárias. Mais do que nunca, a Igreja é desafiada a responder se a sinodalidade será apenas um exercício de escuta ou um caminho real para a mudança.
Para muitos, o caminho é claro: que a Igreja atenda ao chamado daqueles que, ainda que vivendo no anonimato, desejam servir ao Evangelho de forma íntegra e autêntica, sem abdicar de sua vocação matrimonial. O Encontro em Roma, portanto, é apenas mais um capítulo de uma história em busca de sentido, onde o verdadeiro poder está na coragem de fazer perguntas e não temer as respostas. Que a fé continue a ser um encontro vivo com a verdade, onde todos possam ter voz e, enfim, serem escutados.