O efeito Flynn, batizado com o nome de seu criador, prevaleceu até a década de 1960. Seu princípio é que o Quociente de Inteligência (QI) médio continua a aumentar na população. No entanto, desde a década de 1980, pesquisadores da ciência cognitiva parecem compartilhar a descoberta de uma reversão do efeito Flynn e uma queda no QI médio.
Parece que o nível de inteligência medido pelos testes diminui nos países mais desenvolvidos.Pode haver muitas causas para esse fenômeno.
A essa queda ainda contestada do nível médio de inteligência soma-se o empobrecimento da linguagem. São muitos os estudos que demonstram o estreitamento do campo lexical e um empobrecimento da língua.
- Não se trata apenas da redução do vocabulário utilizado,
- mas também das sutilezas da linguagem que permitem elaborar e formular um pensamento complexo.
O desaparecimento gradual dos tempos verbais
- (subjuntivo, passado simples, imperfeito, formas compostas do futuro, particípio passado, etc.)
- dá origem ao pensamento no presente, limitado ao momento,
- incapaz de projeções no tempo.
A generalização da familiaridade, o desaparecimento das letras maiúsculas e da pontuação são golpes fatais.
Retirar a palavra “senhorita”
- não é apenas abrir mão da estética de uma palavra,
- mas também promover a ideia de que entre uma garotinha e uma mulher não há fiferenças.
Menos palavras e menos verbos conjugados significam
- menos capacidade de expressar emoções
- menos possibilidade de desenvolver um pensamento.
Estudos mostraram que parte da violência na esfera pública e privada decorre diretamente da incapacidade de colocar emoções em palavras.
Sem palavras para construir um raciocínio,
- o pensamento complexo caro a Edgar Morin fica tolhido, impossibilitado.
- Quanto mais pobre a linguagem, menos existe o pensamento.
A história está cheia de exemplos
- e há muitos escritos de Georges Orwell em 1984 a Ray Bradbury em Fahrenheit 451
- que contaram como ditaduras de todas as convicções atrapalhavam o pensamento
- reduzindo e distorcendo o número e o significado das palavras.
Não há pensamento crítico sem pensamento. E não há pensamento sem palavras.
- Como construir um pensamento hipotético-dedutivo sem dominar o condicional?
- Como conceber o futuro sem conjugação com o futuro?
- Como apreender uma temporalidade, uma sucessão de elementos no tempo, sejam passados ou futuros, bem como sua duração relativa, sem uma linguagem que faça a diferença entre o que poderia ter sido, o que foi, o que é, o que poderia acontecer, e o que será depois que o que poderia acontecer aconteceu?
Se hoje se ouvisse um grito de guerra, seria aquele dirigido aos pais e professores:
faça com que seus filhos, seus alunos, seus alunos falem, leiam e escrevam.
Ensine e pratique o idioma em suas mais variadas formas, mesmo que pareça complicado, principalmente se for complicado. Porque nesse esforço está a liberdade.
Aqueles que explicam o tempo todo que
- é preciso simplificar a ortografia,
- purgar a linguagem de seus “defeitos”,
- abolir gêneros, tempos, nuances, tudo o que cria complexidade
- são os verdadeiros arquitetos do empobrecimento da mente humana.
Não há liberdade sem exigências. Não há beleza sem o pensamento da beleza.
Christophe Clavé –
* Professor de Estratégia e Gestão INSEEC SBE